...Bento Xavier, que desde o mês de julho tinha grupos armados nas cabeceiras dos rios Apa e Estrela, começou a convidar por escrito a inúmeras pessoas para comparecerem armadas e em companhia dos amigos, também armados, que conseguissem reunir, na povoação de Bela Vista e no dia 30 de novembro, sob o pretexto de assistirem a uma manifestação de apreço à sua pessoa, dirigida e promovida pelo major Camilo Brandão, fiscal do 7º regimento de cavalaria, estacionado na referida povoação. Essa manifestação consistiria na oferta do seu retrato a Bento Xavier e de um adereço de brilhantes à sua esposa. Para levá-la a efeito, o major Brandão distribuía profusamente listas de subscrição pela região do Sul, tendo convidado por carta ao dr. José João de Oliveira Pires, advogado e residente em Nioaque, para ser o orador por parte dos manifestantes.
Que, porém, essa manifestação era apenas um pretexto, e não o verdadeiro fim da projetada reunião, se deduz não só da condição expressa nos convites, de comparecerem armados os convidados, como também de em tais convites acrescentar Bento Xavier, ora que ainda na reunião se trataria de eleger, de acordo com o governo do Estado, um amigo capaz de ser o chefe e de, prestigiado por todos, dirigir-se ao mesmo governo em qualquer assunto que fosse necessário; ora que nela se trataria da defesa da sua pessoa, ameaçada de um assalto de seus adversários; ora que dela resultaria a União do Sul; sendo que a Anacleto Rodrigues, Bento Xavier dissera, em meado de setembro, que seu seu intento, reunindo o povo, era fazer ao governo do Estado exigências excessivas, esperando não ser atendido, para então proclamar a separação do Sul e fazer uma revolução que duraria dois anos, afim de que fossem saqueadas as fazendas e ele e seus amigos se arranjassem, pois era tempo disso.
Na citada reunião Bento Xavier lançou as bases de sua “Revolução da Paz", que continha, entre outros pontos, a independência política da região Sul do Estado. Consta não ter havido consenso por parte da maioria dos presentes aos planos de Bento Xavier. O conflito armado, que durou cerca de cinco anos, foi precipitado pelo governador Generoso Ponce que, imediatamente após à citada reunião, iniciou implacável perseguição ao líder gaúcho e seus seguidores, invadindo suas propriedades e forçando-os ao refúgio no Paraguai. A guerra foi a resposta de Bento Xavier à repressão policial e a expropriação de seus bens.
FONTE: Generoso Ponce Filho, Generoso Ponce, Um Chefe, Pongetti, Rio de Janeiro, 1952, página 499.
FOTO:Correio da Manhã (RJ)