segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A morte de Pedro Celestino




Aos 72 anos, morre em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 21 de janeiro de 1932, Pedro Celestino Correa da Costa, deputado estadual constituinte, vice-presidente do Estado de Mato Grosso, presidente do Estado e senador da República. Sua morte é lamentada e sua obra revista no editorial do jornal católico, A Cruz, de Cuiabá:



O grande mato-grossense, cujo desaparecimento constitui, nesta hora, sobretudo, um golpe dos mais dolorosos para a nossa terra, nasceu a 5 de julho de 1860, no sítio do Bom Jardim, distrito de Serra-Acima.

Pertencente a uma ilustre linhagem, que deu a Mato Grosso muitas figuras de destaque na administração, na política e no domínio da pura inteligência, foram seus pais o capitão Antonio Correa da Costa e D. Inês Maria Luiz Correa da Costa (da família Souza Prado).

Formado em Farmácia, em 1881, abriu em Cuiabá, uma “botica” que, graças à sua tenacidade, competência e amor ao trabalho, se tornou dentro em pouco a primeira no gênero entre nós.

Ingressando na política foi, logo após a proclamação da República, eleito deputado à Assembleia Constituinte, da qual é o penúltimo membro que desaparece, somente sobrevivendo o cel. Virgílio Alves Correa.

A sua atuação na política e em cargos de administração pública o impôs logo a confiança e estima de seus concidadãos, de cujos direitos se fez sempre o desinteressado paladino nas mais difíceis e às vezes trágicas conjunturas. Elevado à vice-presidência do Estado, com Manoel Murtinho, em 1891, foi novamente escolhido para esse cargo em 1907, ao lado de Generoso Ponce, a quem lhe coube substituir, ao cabo de um ano de governo. O que foi a sua diretriz no Palácio Alencastro, dí-lo a consciência dos contemporâneos, a atestar o seu tino financeiro, o seu patriótico desprendimento e, acima de tudo, a sua inatacável probidade.

Deve-lhe Mato Grosso, principalmente no departamento de Instrução Pública, os mais assinalados serviços, levados a efeito nesse primeiro período governativo. Após as lutas políticas de 1916-1917, coube-lhe representar o Estado no Senado Federal, donde o foram buscar seus conterrâneos para entregar-lhe novamente o governo, em sucessão ao arcebispo Aquino Correa, cuja presidência  se finalizara pela  fusão dos partidos, realizando dessa forma, o programa patriótico de paz e união que formara o escopo do governo do eminente prelado cuiabano. Essa união só de pode fazer, no momento, em torno do nome consagrado e respeitável de Pedro Celestino, que congregou em redor de si, como uma bandeira de honestidade e de patriotismo, os elementos mais ponderáveis da política mato-grossense.

A segunda administração Pedro Celestino é de ontem e dela basta dizer que, além da obra de cimentação da paz e da concórdia, conseguiu ainda o egrégio patrício a reconstrução financeira do Estado, abalado em consequência das lutas partidárias e da depressão enorme da receita, em 1921, legando-nos vários e importantes melhoramentos, alguns acabados, como a estrada da Chapada, velha aspiração cuiabana, que lhe coube realizar, e outros iniciados, como o serviço de iluminação da capital pela força motriz do Rio da Casca.

Teve a auxiliá-lo nessa segunda fase a competência, a energia e a aptidão invulgar do dr.V. Correa Filho, seu secretário Geral do Estado, figura de eleição no meio intelectual e administrativo de Mato Grosso, cujo nome constitui uma garantia de confiança, sendo, como é, um dos poucos em que Mato Grosso pode e deve espera para sua evolução e o seu progresso.

Enfermado, já ao final do quadriênio, passou o governo ao 1° vice-presidente, dr. Estevão Correa, que prosseguiu e ultimou o período administrativo, em perfeita unidade de vistas e de ação com o grande mato-grossense, o que vale dizer, trabalhando patrioticamente pela nossa terra.

O maior serviço prestado a Mato Grosso por Pedro Celestino foi, porém, não há duvidar, esse exemplo vivo de honradez e trabalho, de abnegação e amor pátrio, de carinho pelas nossas coisas e discernimento no estudo dos nossos problemas, de pureza e inquebrantabilidade  na defesa do patrimônio moral e material do Estado, constituindo-se barreira inexpugnável aos delapidadores da nossa honra e das nossas riquezas.

O “caso Antonina” é típico e não há mister evocar outros.

Criou, por isso, como é natural, inimigos rancorosos e adversários implacáveis. Essas odiosidades são, entretanto, daquelas que honram e enobrecem o homem.

Terminado o seu governo, foi, em 1927, reconduzido, pelo voto dos seus paisanos, à Câmara Alta, onde se conservou até que a Revolução de Outubro de 1930 dissolvesse o Poder Legislativo. Partidário da Aliança Liberal desde a sua constituição, dirigiu nessa ocasião, memorável manifesto aos seus amigos. Vitoriando o movimento revolucionário, nada, entretanto, ambicionou, no seu desprendimento assaz conhecido, no seu nobre e sadio idealismo, que só visava o bem coletivo. Tendo feito uma carreira política e administrativa de meio século, jamais se lhe apontou um ato menos digno ou inspirado em motivos que não fossem os que visam o engrandecimento de sua terra. Sofreu, com superioridade, com estoicismo, as mais ingratas campanhas. Tudo levou de vencida. E hoje, ao descerem-lhe ao seio maternal da terra os despojos venerandos, um sentimento de tristeza e de pesar invade todos os corações dos mato-grossenses patriotas e sensatos, ante o vácuo que, no cenário da administração e da política, deixa o desaparecimento do grande filho da terra cuiabana.

O coronel Pedro Celestino foi casado com D. Constança Novis Correa da Costa e, enviuvando-se, consorciou-se com a sua cunhada D. Corina Novis Correa da Costa. Do primeiro casal deixou os seguintes filhos: dr. Clóvis Correa da Costa, médico, residente no Rio de Janeiro, drs. Alvino Correa da Costa, farmacêutico e Ytrio Correa da Costa, engenheiro, residentes em Campo Grande; d. Aline, casada com o tenente-coronel Romão Veriano da Silva Pereira, d. Edith, casada com o dr. Virgílio Alves Correa Filho e d. Maria Constança, casada com o cel. José Alves Ribeiro Filho.
Das segundas núpcias deixou os seguintes filhos: dr. Fernando Correa da Costa, médico, residente em Campo Grande, tenente Pedro Celestino Correa da Costa, Paulo Correa da Costa, contador, João Batista, estudante e senhorinha Inês Maria Luiza Correa da Costa.

Seu principal herdeiro político foi o filho Fernando Correa da Costa, médico que, mudando-se para o Sul do Estado em 1927, fez carreira com prefeito de Campo Grande (1947), governador do Estado (1950 e 1960) e senador da República (1966). Seu outro filho, Ytrio Correa da Costa, foi prefeito nomeado de Campo Grande e deputado federal. A mais recente representante da família na política foi a deputada federal Tereza Cristina Correa da Costa, do DEM de Mato Grosso do Sul (2014-2018/2019-2023) e ministra da Agricultura do governo Bolsonaro. (2019).


FONTE: A Cruz (Cuiabá), 31 de janeiro de 1932.
FOTO: acervo do governo do Estado de Mato Grosso.


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