Ocorrida
em 3 de janeiro de 1865, as primeiras notícias da invasão de Corumbá, com algum
grau de credibilidade, passaram a circular pela imprensa brasileira somente a
partir do final de janeiro de 1865. Os jornais do Brasil, valendo-se de conexão
com a imprensa argentina, passaram a circular com as notícias da guerra em
território sul-matogrossense. Numa dessas notícias, o Diário do Rio de Janeiro,
de 4 de fevereiro de 1865, com informação de La Nacion, da
Argentina, sintetizou a ação do exército paraguaio depois de apoderar-se da
vila de Corumbá, entremeando no artigo a macabra informação de uma exposição de orelhas
humanas:
A invasão de Corumbá foi uma série de feitos escandalosos. O comandante, nomeado para esse ponto, ordenou o saque aos soldados. Todas as casas foram abertas à força bruta, e tudo quanto nelas existia foi conduzido para o quartel, onde em em presença do dito chefe, repartiu-se uma parte pela tropa e oficiais e outra parte foi transportada para um navio com destino a Assunção.
Nesta fúria nem os próprios estrangeiros escaparam. As bandeiras das diversas nações não protegiam a ninguém. A velhice e a moléstia não eram obstáculo. As casas pertencentes a brasileiros foram marcadas com um B, depois da saqueadas.
A escuna Jacobina, de nacionalidade argentina, e propriedade do italiano Santiago de Lucchi, estando carregada com 2.000 couros secos, foram estes lançados ao rio e o navio declarado prisioneiro; por muito favor deram liberdade a tripulação, exceto a quatro homens de cujo destino não se sabe.
No dia 10 foi queimada toda a madeira que existia para construção da alfândega; todo o gado encontrado nas imediações foi destruído.
Em Corumbá ficaram apenas 66 estrangeiros e algumas pobres mulheres.
A cidade está ocupada por um batalhão de 1.000 homens sob o comando do capitão Goristiaga. Os vândalos tinham intenção de atacar Vila Maria e Cuiabá.
O Iporã chegou a Assunção no dia 14. Este vapor sofrera muitas avarias no ataque do Anhambay. A tripulação ao desembarcar na capital paraguaia repartia grande quantidade de gêneros, roupa e outros objetos, produtos de seus roubos em Corumbá. O próprio comandante, Andrés Herreros, arranjou não pequena fortuna.
Enfim, para cúmulo de selvageria, esteve exposta a bordo daquele navio uma conta, em que se achavam presas as orelhas dos infelizes tripulantes do Anhambay.
Com a notícia destes triunfos, houve em Assunção grandes festas populares e bailes.
Os estrangeiros em Corumbá enviaram uma representação ao sr. Barbolani, ministro italiano em Montevideo, pedindo a sua proteção.
FONTE: Diário do Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 1865.
IMAGEM: bog do Assis Oliveira