quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A morte do marechal Rondon

                        


Aos 92 anos falece no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1958, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, patrono brasileiro das comunicações. Mato-grossense de Mimoso, foi o responsável pela extensão da rede telegráfica de Cuiabá a Bela Vista, passando por Coxim, Aquidauana, Miranda, Corumbá, Forte Coimbra e Porto Murtinho e Norte do Brasil. Fundou e foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio. Em Campo Grande, uma das principais ruas da cidade, tem o seu nome. A maior cidade do Sul de Mato Grosso, Rondonópolis, é também veneração à sua personalidade. Rondon é o único cidadão brasileiro homenageado com a denominação de um Estado da Federação: Rondônia.¹

O presidente Juscelino Kubtscheck, ao tomar conhecimento de seu falecimento, fez a seguinte manifestação:


O marechal Rondon é o símbolo dos pioneiros que construíram o Brasil. O seu nome está na consciência dos brasileiros e no mapa nacional, onde Rondônia o imortaliza. Bandeirante dos sertões, amigo desvelados dos índios, militar que teve no coração a causa da integridade do país, sacrificou o melhor de sua vida e a luz de seus olhos pelo Brasil humilde e longínquo, onde queria que a cultura substituísse pacificamente a selvageria primitiva. A sua obra é uma glória do povo. A sua biografia pertence à humanidade.² 


Do mundo literário a homenagem póstuma mais singela ao grande estadista foi-lhe a prestada pelo poeta Manoel Bandeira: 

Há homens que precisam morrer para que se calem as reservas à admiração que suscitam quando vivos. A atividade deles é dessas que não podem deixar de dividir violentamente os seus semelhantes; despertam assim ódios, rancores, desconfianças mais difíceis da vencer do que os inumeráveis perigos da selva selvaggia. Foi o caso de Ruy, de Nabuco, de Rio Branco.

Rondon, não. Teve a fortuna de antegozar na reverência, na estima dos seus contemporâneos unânimes a nomeada póstera indestrutível. O consenso nacional há muito o havia distinguido como uma das glórias mais puras do Brasil. Ainda que não tivesse realizado a obra científica e social que cumpriu - essa obra que outro brasileiro  de exceção e seu companheiro de trabalho, Roquete Pinto, louvou como não podendo ser assaz admirada, havia em Rondon uma tão impressionante presença das mais nobres virtudes humanas - coragem, probidade, desinteresse, que só elas justificariam as homenagens que lhe vemos tributadas no momento em que o perdemos.

Militar, não foi desses milicos que usurpam o prestígio do Exército para desferir golpes de força em proveito de suas ambições pessoais: generais que poderiam repetir como suas as palavras que Shakespeare pôs na boca de Ricardo III: Our strong arms beour conscience, swords our law. O prestígio do Exército vem precisamente das excelências de soldados como ele.

Abrindo estradas nos recessos mais inóspitos do sertão, aparelhando-os de linhas telegráficas a transmitir o que um pareci poeta chamou "a língua de Mariano", conquistando a amizade dos silvícolas, compreendendo-os, protegendo-os, inscreveu Rondon o seu nome na extensão de todo o Brasil. A sua glória transcendeu a própria pessoa, porque ele soube acordar as energias, a abnegação dos que serviram como seus companheiros de sertanismo, homens heroicos, soldados quase desconhecidos dessa autêntica epopeia que foram as entradas de Rondon.

A vida de Rondon é um conforto para todo brasileiro que ande descrente de sua terra. Ela mostra que nem tudo é cafajestada nestes nossos oito milhões de quilômetros quadrados.³


FONTE: ¹Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Matogrossense, edição do autor, Cuiabá, 1973, página 145. ²O Jornal (Rio de Janeiro), 21 de janeiro de 1958. ³Jornal do Brasil (RJ), 22 de janeiro de 1958.
VIDEO: Trecho de entrevista do marechal Rondon à televisão.

Multinacional inaugura mineradora no Coxipó





É inaugurado em 18 de janeiro de 1903, o serviço de mineração no rio Coxipó-Mirim, em Cuiabá. Para esse fim foi empregada a primeira draga introduzida em Mato Grosso. A companhia, para isso organizada na Austrália (The Transpacific [Brazil] Mining and Exploration Company Limited), e que tinha como diretor técnico Mr. John H. Wall, auxiliado pelo dr. Jacques Markwalder, adquirindo posteriormente para os trabalhos mais duas poderosas dragas.

A chegada do equipamento em Cuiabá, sete meses antes do início das atividades da empresa, foi registrado pela imprensa local:

Consta-nos que ultimamente chegou em nosso porto e descarregou-se um enorme maquinismo destinado à uma importante companhia inglesa de mineração organizada pelo hábil engenheiro Jacques Markwalder sob o título de - The Transpacific (Brazil) Mining and Exploration Company Limited - tendo por representante o mesmo sr. Marckwalder.

O maquinismo que tem sido desembarcado parte já fora conduzido para o Coxipó do Ouro, onde terá de ser assentado em suas margens.

O que podemos afiançar é que a mesma companhia muito terá de lucrar com essa mineração de que já tem conhecimento do lugar o sr. Marckwalder. Será de muita vantagem para o nosso Estado que auferirá disso grandes lucros.

O sr. Marckwalder para conseguir esse desideratum, muito tem lutado; e aqui entre os nossos capitalistas nenhum não se animou a coadjuvá-lo na empresa, desconfiando eles nada tirar de resultado, indo o sr. Marckwalder buscá-lo no estrangeiro, onde encontrou todo o apoio e certeza de resultado, conseguindo grande capitais para o trabalho.

Diz o mesmo engenheiro que as minas do Coxipó do Ouro rivalizam-se com as da Austrália.

Ora, sendo assim, nada resta a duvidar para a realização das vantagens da sua útil e importantíssima empresa.

Já não é um grande passo dado para a grandeza de Mato Grosso?

O privilégio já ele tirou e lhe fora concedido como já é público e conhecido.

Consta-nos que além desse privilégio, ainda a mesma companhia arrendou por 30 anos um terreno aurífero pertencente ao tenente-coronel Faustino Correa da Costa, pela quantia de 90:000$000.

Dando esta notícia aos leitores, felicitamos o estado de Mato Grosso e a companhia organizada pelo sr. Marckwalder, por esse grande passo dado; pois temos certeza de que ela fruirá de vantajosos resultados, fazendo inveja aos nossos usurários capitalistas que só querem o seu dinheiro para apodrecer na burra ou render prêmio n'algum banco e capitalizando os juros de seis em seis meses!

Deus que ajude ao sr. Marckwalder e sua companhia na empresa que encetaram para glória sua e nossa.

Com mais vagar iremos orientando os leitores acerca desta importante empresa, colhendo outras notícias no prosseguimento dos seus trabalhos, os quais não serão pequenos e que demandam de muito pessoal e despesas para a montagem do mesmo maquinismo que calcula-se em 400 e tantos contos de réis.¹

O otimismo do jornal se transformaria numa realidade insólita para o festejado investimento, conforme o breve registro do historiador atento:

Transferido o privilégio à Companhia Mato Grosso, com sede em Buenos Aires, teve de suspender a mineração,sendo a empresa declarada falida, em razão da carência de uma administração como a primitiva.²


FONTE: ¹O Pharol, Cuiabá, 21 de junho de 1902. ²Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses (2a. edição), Casa Civil do governo do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 50.

Força brasileira deixa Uberaba

4 de setembro de 1865 Para dar combate ao Paraguai, cujas forças em dezembro de 1864 invadiram o Sul de Mato Grosso, paulistas e min...