O presidente Juscelino Kubtscheck, ao tomar conhecimento de seu falecimento, fez a seguinte manifestação:
O marechal Rondon é o símbolo dos pioneiros que construíram o Brasil. O seu nome está na consciência dos brasileiros e no mapa nacional, onde Rondônia o imortaliza. Bandeirante dos sertões, amigo desvelados dos índios, militar que teve no coração a causa da integridade do país, sacrificou o melhor de sua vida e a luz de seus olhos pelo Brasil humilde e longínquo, onde queria que a cultura substituísse pacificamente a selvageria primitiva. A sua obra é uma glória do povo. A sua biografia pertence à humanidade.²
Do mundo literário a homenagem póstuma mais singela ao grande estadista foi-lhe a prestada pelo poeta Manoel Bandeira:
Há homens que precisam morrer para que se calem as reservas à admiração que suscitam quando vivos. A atividade deles é dessas que não podem deixar de dividir violentamente os seus semelhantes; despertam assim ódios, rancores, desconfianças mais difíceis da vencer do que os inumeráveis perigos da selva selvaggia. Foi o caso de Ruy, de Nabuco, de Rio Branco.
Rondon, não. Teve a fortuna de antegozar na reverência, na estima dos seus contemporâneos unânimes a nomeada póstera indestrutível. O consenso nacional há muito o havia distinguido como uma das glórias mais puras do Brasil. Ainda que não tivesse realizado a obra científica e social que cumpriu - essa obra que outro brasileiro de exceção e seu companheiro de trabalho, Roquete Pinto, louvou como não podendo ser assaz admirada, havia em Rondon uma tão impressionante presença das mais nobres virtudes humanas - coragem, probidade, desinteresse, que só elas justificariam as homenagens que lhe vemos tributadas no momento em que o perdemos.
Militar, não foi desses milicos que usurpam o prestígio do Exército para desferir golpes de força em proveito de suas ambições pessoais: generais que poderiam repetir como suas as palavras que Shakespeare pôs na boca de Ricardo III: Our strong arms beour conscience, swords our law. O prestígio do Exército vem precisamente das excelências de soldados como ele.
Abrindo estradas nos recessos mais inóspitos do sertão, aparelhando-os de linhas telegráficas a transmitir o que um pareci poeta chamou "a língua de Mariano", conquistando a amizade dos silvícolas, compreendendo-os, protegendo-os, inscreveu Rondon o seu nome na extensão de todo o Brasil. A sua glória transcendeu a própria pessoa, porque ele soube acordar as energias, a abnegação dos que serviram como seus companheiros de sertanismo, homens heroicos, soldados quase desconhecidos dessa autêntica epopeia que foram as entradas de Rondon.
A vida de Rondon é um conforto para todo brasileiro que ande descrente de sua terra. Ela mostra que nem tudo é cafajestada nestes nossos oito milhões de quilômetros quadrados.³
FONTE: ¹Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Matogrossense, edição do autor, Cuiabá, 1973, página 145. ²O Jornal (Rio de Janeiro), 21 de janeiro de 1958. ³Jornal do Brasil (RJ), 22 de janeiro de 1958.
VIDEO: Trecho de entrevista do marechal Rondon à televisão.