Aos 72 anos, morre em Petrópolis, no Rio de Janeiro,
Pedro Celestino Correa da Costa, deputado estadual constituinte,
vice-presidente do Estado de Mato Grosso, presidente do Estado e senador da
República. Sua morte é lamentada e sua obra revista no editorial do jornal
católico, A Cruz, de Cuiabá:
O
grande mato-grossense, cujo desaparecimento constitui, nesta hora, sobretudo,
um golpe dos mais dolorosos para a nossa terra, nasceu a 5 de julho de 1860, no
sítio do Bom Jardim, distrito de Serra-Acima.
Pertencente
a uma ilustre linhagem, que deu a Mato Grosso muitas figuras de destaque na
administração, na política e no domínio da pura inteligência, foram seus pais o
capitão Antonio Correa da Costa e D. Inês Maria Luiz Correa da Costa (da
família Souza Prado).
Formado
em Farmácia, em 1881, abriu em Cuiabá, uma “botica” que, graças à sua
tenacidade, competência e amor ao trabalho, se tornou dentro em pouco a
primeira no gênero entre nós.
Ingressando
na política foi, logo após a proclamação da República, eleito deputado à
Assembleia Constituinte, da qual é o penúltimo membro que desaparece, somente
sobrevivendo o cel. Virgílio Alves Correa.
A
sua atuação na política e em cargos de administração pública o impôs logo a
confiança e estima de seus concidadãos, de cujos direitos se fez sempre o
desinteressado paladino nas mais difíceis e às vezes trágicas conjunturas.
Elevado à vice-presidência do Estado, com Manoel Murtinho, em 1891, foi
novamente escolhido para esse cargo em 1907, ao lado de Generoso Ponce, a quem
lhe coube substituir, ao cabo de um ano de governo. O que foi a sua diretriz no
Palácio Alencastro, dí-lo a consciência dos contemporâneos, a atestar o seu
tino financeiro, o seu patriótico desprendimento e, acima de tudo, a sua
inatacável probidade.
Deve-lhe
Mato Grosso, principalmente no departamento de Instrução Pública, os mais
assinalados serviços, levados a efeito nesse primeiro período governativo. Após
as lutas políticas de 1916-1917, coube-lhe representar o Estado no Senado
Federal, donde o foram buscar seus conterrâneos para entregar-lhe novamente o
governo, em sucessão ao arcebispo Aquino Correa, cuja presidência se finalizara pela fusão dos partidos, realizando dessa forma, o
programa patriótico de paz e união que formara o escopo do governo do eminente
prelado cuiabano. Essa união só de pode fazer, no momento, em torno do nome
consagrado e respeitável de Pedro Celestino, que congregou em redor de si, como
uma bandeira de honestidade e de patriotismo, os elementos mais ponderáveis da
política mato-grossense.
A
segunda administração Pedro Celestino é de ontem e dela basta dizer que, além
da obra de cimentação da paz e da concórdia, conseguiu ainda o egrégio patrício
a reconstrução financeira do Estado, abalado em consequência das lutas
partidárias e da depressão enorme da receita, em 1921, legando-nos vários e
importantes melhoramentos, alguns acabados, como a estrada da Chapada, velha
aspiração cuiabana, que lhe coube realizar, e outros iniciados, como o serviço
de iluminação da capital pela força motriz do Rio da Casca.
Teve
a auxiliá-lo nessa segunda fase a competência, a energia e a aptidão invulgar
do dr.V. Correa Filho, seu secretário Geral do Estado, figura de eleição no
meio intelectual e administrativo de Mato Grosso, cujo nome constitui uma
garantia de confiança, sendo, como é, um dos poucos em que Mato Grosso pode e
deve espera para sua evolução e o seu progresso.
Enfermado,
já ao final do quadriênio, passou o governo ao 1° vice-presidente, dr. Estevão
Correa, que prosseguiu e ultimou o período administrativo, em perfeita unidade
de vistas e de ação com o grande mato-grossense, o que vale dizer, trabalhando
patrioticamente pela nossa terra.
O
maior serviço prestado a Mato Grosso por Pedro Celestino foi, porém, não há
duvidar, esse exemplo vivo de honradez e trabalho, de abnegação e amor pátrio,
de carinho pelas nossas coisas e discernimento no estudo dos nossos problemas,
de pureza e inquebrantabilidade na
defesa do patrimônio moral e material do Estado, constituindo-se barreira
inexpugnável aos delapidadores da nossa honra e das nossas riquezas.
O
“caso Antonina” é típico e não há mister evocar outros.
Criou,
por isso, como é natural, inimigos rancorosos e adversários implacáveis. Essas
odiosidades são, entretanto, daquelas que honram e enobrecem o homem.
Terminado
o seu governo, foi, em 1927, reconduzido, pelo voto dos seus paisanos, à Câmara
Alta, onde se conservou até que a Revolução de Outubro de 1930 dissolvesse o
Poder Legislativo. Partidário da Aliança Liberal desde a sua constituição,
dirigiu nessa ocasião, memorável manifesto aos seus amigos. Vitoriando o
movimento revolucionário, nada, entretanto, ambicionou, no seu desprendimento
assaz conhecido, no seu nobre e sadio idealismo, que só visava o bem coletivo.
Tendo feito uma carreira política e administrativa de meio século, jamais se
lhe apontou um ato menos digno ou inspirado em motivos que não fossem os que
visam o engrandecimento de sua terra. Sofreu, com superioridade, com
estoicismo, as mais ingratas campanhas. Tudo levou de vencida. E hoje, ao
descerem-lhe ao seio maternal da terra os despojos venerandos, um sentimento de
tristeza e de pesar invade todos os corações dos mato-grossenses patriotas e
sensatos, ante o vácuo que, no cenário da administração e da política, deixa o
desaparecimento do grande filho da terra cuiabana.
O
coronel Pedro Celestino foi casado com D. Constança Novis Correa da Costa e,
enviuvando-se, consorciou-se com a sua cunhada D. Corina Novis Correa da Costa.
Do primeiro casal deixou os seguintes filhos: dr. Clóvis Correa da Costa,
médico, residente no Rio de Janeiro, drs. Alvino Correa da Costa, farmacêutico e
Ytrio Correa da Costa, engenheiro, residentes em Campo Grande; d. Aline, casada
com o tenente-coronel Romão Veriano da Silva Pereira, d. Edith, casada com o
dr. Virgílio Alves Correa Filho e d. Maria Constança, casada com o cel. José
Alves Ribeiro Filho.
Das
segundas núpcias deixou os seguintes filhos: dr. Fernando Correa da Costa,
médico, residente em Campo Grande, tenente Pedro Celestino Correa da Costa,
Paulo Correa da Costa, contador, João Batista, estudante e senhorinha Inês
Maria Luiza Correa da Costa.
Seu principal herdeiro político foi o filho Fernando
Correa da Costa, médico que, mudando-se para o Sul do Estado em 1927, fez
carreira como prefeito de Campo Grande (1947), governador do Estado (1950 e
1960) e senador da República (1966). Seu outro filho, Ytrio Correa da Costa,
foi prefeito nomeado de Campo Grande e deputado federal. A mais recente
representante da família na política foi a deputada federal Tereza Cristina
Correa da Costa, (DEM-MS) com mandato entre 2014 e 2018.
FONTE: A Cruz (Cuiabá), 31 de janeiro de1932.
FOTO: acervo do governo do Estado de Mato Grosso.