sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Morre Silva Manso





É assassinado em 18 de janeiro de 1848, em sua fazenda em Campinas o médico e político Antonio Patrício da Silva Manso. Nascido na vila de Santos, em 1778, mudou-se em seguida para Itu e fixou-se na vila de São Carlos (Campinas), onde dedicou-se inicialmente às artes plásticas, partindo depois para a botânica e à medicina. Em 5 de agosto de 1820, conseguiu de Dom João VI carta licença para exercer a medicina curativa. Em 1821 é nomeado cirurgião-mor da província de Mato Grosso, "para onde seguiu em trabalhosa viagem, à sua própria custa, pois que também não percebia vencimento algum do sobredito cargo, do qual prestou juramento em Cuiabá a 4 de março de 1823".

Adquiriu grande prestígio "por sua competência, por sua atividade e por sua dedicação a todas as classes sociais, desde logo teve de envolver-se na política da remota província". O primeiro cargo que exerceu em Mato Grosso foi o de secretário de governo, pouco depois da proclamação da independência do Brasil. Foi também membro do governo da província e único representante de Mato Grosso na câmara temporária do Império, na terceira legislatura (1834 - 1837). 

O que o tornou célebre em todo o Brasil, entretanto, foi a sua posição política, como militante liberal. Com a abdicação de D. Pedro I e a ascensão de Feijó à regência, o pais entrou em verdadeira efervescência revolucionária, com a polarização entre os brasileiros natos, que defendiam o novo governo e os portugueses (chamados adotivos) que pleiteavam a volta do imperador. Militante dos brasileiros natos, Silva Manso, a exemplo do que aconteceu em outras províncias, criou e passou a presidir a Sociedade dos Zelosos da Independência do Brasil em Mato Grosso, entidade que congregava os nativos na luta contra os portugueses, acusados de monopolizarem as atividades empresariais da cidade e exercerem influência política hegemônica no governo.

Mesmo havendo deixado Cuiabá antes da Rusga, para tomar posse como deputado, no Rio de Janeiro, seu nome esteve diretamente ligado aos exaltados, responsáveis pela noite sangrenta de 30 de maio de 1834, o que lhe impediu de voltar a Cuiabá ao final de seu mandato em 1837, preferindo fixar residência em Campinas. 

Em Mato Grosso, consagrou-se com o epíteto "leão de Cuiabá".


FONTE: Basílio de Magalhães, Biografia de Antonio Luiz Patrício da Silva Manso, Arquivo do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1909, volume XXII. 



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Minas de ferro em Cuiabá







Ferro em Cuiabá. O mineral que não saiu do papel






Dom João VI decreta em 16 de janeiro de 1816, a criação de uma companhia para exploração de ferro em Cuiabá:

S.M. El Rey N.S. querendo promover a extração dos metais e minerais preciosos e favorecer ao mesmo tempo e animar a indústria de seus fieis vassalos, neste ramo tão importante da riqueza do Reino do Brasil, foi servido, por carta Régia escrita ao governador e capitão-geral de Mato Grosso, em data de 16 de janeiro passado, aprovar o estabelecimento da companhia de mineração do Cuiabá, e lhe deu estatutos para a sua regulação. Ordenou igualmente que se insinuasse à dita companhia o mandar à sua custa, logo que as suas forças lhe permitissem, pessoas capazes às reais fábricas de farro das capitanias de S.Paulo e Minas Gerais para aprenderem a arte de fundir o ferro a fim de introduzir-se também no Cuiabá este fabrico, quanto fosse possível e recomendou toda a diligência em perscrutar naquele distrito se existem ali minas de sal.

A companhia estabeleceu-se por 30 anos, findo os quais pode ser dissolvida ou arranjada de novo. As ações consistem em 100.000 reis em moeda e em dois escravos vestidos e preparados de ferramentas, e estes devem ser propriedade dos acionistas e não alugados. As ações recebem-se até haver o fundo necessário para o encanamento das águas, que puderem cobrir os tabuleiros das vizinhanças da vila do Cuiabá, mas logo que a obra se principiar não poderão entrar mais sócios. A julgar-se conveniente para o futuro aumentar os fundos até o limite prescrito de 1.800 escravos dos sócios atuais ou de outros novos, pagando estes últimos o prêmio que se arbitrar pelos trabalhos já feitos. O governador e capitão-geral será o inspetor da companhia e o juiz-de-fora do Cuiabá servirá de conservador. A companhia terá um Conselho composto de 12 acionistas, dentre os que tiverem maior número de ações, que residirem ali mesmo e sobre quem recair a escolha do governador e capitão-general. Quatro membros deste conselho, dos mais hábeis, serão nomeados diretores e servirão por tempo de três anos, com responsabilidade ao Conselho pela sua administração. O Conselho há de convocar-se no fim de cada um ano para examinar os livros e contas, assim como também para repartir os lucros quando os houver, e esta divisão será assinada pelo Conselho e pelos diretores, sendo livre a cada um dos interessados o examinar as contas dos lucros na presença dos diretores, que para isso facilitarão os livros. Uma sexta parte dos lucros se guardará em caixa separada para as despesas extraordinárias que o Conselho resolver. As ações não serão alienáveis senão por vontade de seus donos em venda pública, na qual serão preferidos os sócios em igualdade de preço. Não se admitem repartições ou denúncias nos terrenos concedidos à Companhia. Os acionistas terão de mais certos privilégios e isenções declaradas nos estatutos.

Outra iniciativa do governo em explorar a mineração mecânica em Cuiabá, deu-se já na República, em 1903. Uma empresa, formada de capital estrangeiro, conseguiu concessão para instalar-se no rio Coxipó. O projeto não ofereceu os resultados esperados. A empresa faliu. Veja como foi a experiência. Clique aqui.

FONTE: Correio Braziliense (Londres) edição nº 18, janeiro de 1817.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Morre o barão de Melgaço







Morre em Cuiabá, em 14 de janeiro de 1880, Augusto Leverger, o barão de Melgaço. Nascido na França em 1802, Leverger chegou a Mato Grosso, como capitão-tenente em 1830, para transformar-se numa das figuras de maior relevo na história do Estado, por sua projeção política durante o império. 

Marinheiro aos 16 anos de idade, em 1820 embarcou na escuna francesa Angélica, na condição de segundo comandante, com destino ao Uruguai, onde dedicou-se ao estudo do estuário Prata. Em Cuiabá organizou o departamento do Trem Naval, embrião do arsenal da Marinha. Em 1839 foi nomeado pelo governo imperial português consul-geral do Brasil na república do Paraguai. Em 1842 é promovido a capitão de fragata e em 1852 a capitão de mar e guerra. Em 1857encerra voluntariamente sua carreira militar.

Na política, sem nunca haver disputado nenhum cargo, foi várias vezes distinguido com a tarefa de governar Mato Grosso:


Na suprema direção da província, adotara como norma de conduta a mais severa economia e inteira distribuição da justiça, não distinguindo correligionários e fazendo-se respeitado no conceito unânime dos adversários. Embora filiado ao partido conservador, exerceu também a presidência em situação liberal, tanta e tão justificada era a confiança que inspirava a todos.


Comandante de armas e presidente da província por várias vezes, Melgaço está no rol dos vultos mais homenageados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em Mato Grosso há duas cidades com seu nome, Barão de Melgaço e Santo Antônio de Leverger. Em Mato Grosso do Sul, há uma rua com seu nome em praticamente todas as cidades, emancipadas antes da divisão. Nioaque, por vários anos depois da guerra do Paraguai, chegou a ser chamada oficialmente de Levergeria, em sua homenagem.

FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2a. edição) Governo de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 40.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Cuiabá festeja independência do Brasil


O povo de Cuiabá, confirmada a proclamação da independência do Brasil, em 7 de setembro do ano anterior, reúne-se em 6 de janeiro de 1823, para festejar o acontecimento do século, com direito a registro nos anais de sua História:

Em 6 de Janeiro a Camara fes cantar na Cathedral d’ esta Cid.e o Hino –Te Deum Laudamus– em acção de graças, e fes publicar trez dias de Luminarias pela Aclamação do Principe Regente, o Imperador Constituicional e Perpetuo Defensor do Brasil, e no dia 22 do dito mes, se ajuntarão na Camara a Ex.ma Junta Governantiva, e mais Cidadãos, Clero, e Povo, q.’ tinhão sido convidados, p.r Edital de 15, para-se manisfestar e declarar a vontade daquellas Respeitaveis Corporaçõens, e Povos, ora presentes, em abundantissimo numero, sobre a Independencia do Brasil, e aclamacão de S.M.I. Elevada a alta e Sublime Dignidade de Imperador do Brasil e seu Defensor Perpetuo, pela Nobre e Leal Cidade ao Rio de Janeiro, e p.r algumas outras Cidades, e Villas d’este vasto Imperio, como constava pelos Diarios daquella Cidade N. 124, 125, – e 126 – datados á 15,- 17, e 19 do mes de Outubro do anno transposto, chegados de proximo a esta Cidade, e com effeito foi expremido, e declarado p.r  votos unanimes, acompanhados d’entusiasmo, e satisfação, q.’ o Povo do Brasil he livre, e Independente, que sua divisa por tanto deve ser, e he = A Independencia, ou morte = que tendo sido esta mesma Independencia, e liberdade, sustentada, Defendida, e Protegida em Gloria, e Proveito d’ este vasto Imperio, pelos Talentos, e Intrepides do Jovem Principe o Snr. D- Pedro d’ Alcântara ja amiassada pelos inimigos declarados d’ este mesmo Imperio, os degenerados Deputados das Cortes de Lisboa, q.’ a seu arbitrio, e com descarada perfidia | Despoticam.e, a querião agrilhoar, e escravisar p.r tanto havia p.r hadotado o Systema, a Heroyca Resolução daquella Nobre, e Sempre Leal Cidade do Rio de Janeiro, e outraz cidades, e Villas das próximas Prov.as, em terem aclamado o Mesmo Augusto Senr.’ D. Pedro d’ Alcântara Imp.or Constitucional do Brasil, e seu Perpetuo Defensor, e q.’ p.r isso, o innaogoravão, reconhecião, e aclamarão Imperador do Brasil, e seu Defensor Perpetuo, como expressa, e Declaradam.e foi confirmado, p.r todos, pela correspondencia, e repetição dos vivas, q.’ forão dados pelo Presidente da Camara o Alferes Jose de Pinto e Asevedo, o q.e aproximando-se a huma Janella da mesma, de pois de desenrolar a bandeira de q.’ usa a Camara, sustentada pelo Vereador transposto o Cap.m Jose Pereira dos Guimarães, e em voses inteligeveis, e claras, e altas, disse-viva a Nossa Santa Religião, viva o Imp.or Constitucional do Brasil, e seu Perpetuo Defensor, Viva a Imperatriz, sua Augusta Esposa, Viva a Augusta Descendencia de Suas Mag.es, Imperiais = Viva a Independencia do Brasil, Viva o Povo do Brasil, findando-se com repetidas vivas dadas p.r immenso Povo, q.’ para as ruas, e praças fronteiras tinha comcorrido, e assignarão a vereança mais de 200 pessoas.


FONTE: Annaes do Senado da Câmara do Cuiabá (1823) 

FOTO: Reprodução. Meramente ilustrativa.



segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Assembleia rejeita cassação do governador





A Assembleia Legislativa de Mato Grosso, em Cuiabá, rejeita em 19 de agosto de 1967, o projeto de resolução de iniciativa de deputados oposicionistas, à frente o deputado Castro Pinto, propondo a cassação do mandato governador Pedro Pedrossian. Apresentado em 18 de fevereiro, o assunto foi alvo de longo debate, envolvendo a classe política e a sociedade mato-grossense, visivelmente contrária à medida. 

Votaram contra a cassação os deputados: da Arena, Afro Stefanini, Cacildo Hugueney, Emanuel Pinheiro, Ivo Cersósimo, João Chama, José Cerveira, José de Freitas, Rene Barbour, Tomaz de Aquino, Valdevino Guimarães e Waldomiro Gomçalves. Do MDB, Agápito Boeira, Altair Brandão e Carlos Medeiros.

Votaram pela cassação: Arena, Augusto Mário, Alexandrino Marques, Celso Amaral,  João de Paula Ribeiro, Milton Figueiredo, Nelson Ramos, Nunes Rocha, Oscar Soares, Reinaldo Moraes, Sebastião Cunha e Ubaldo Barém. Do MDB, Américo Nassif, Cleomenes Nunes e Castro Pinto.

Ausentaram-se os deputados Oliveira Lima (Arena) e Walter de Castro (MDB).


FONTE: Rubens de Mendonça, Historia do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, página 428. 



quinta-feira, 27 de junho de 2019

A volta da santa





A imagem de N.S. do Carmo, retirada da capelinha do forte, por ocasião da ocupação paraguaia, em dezembro de 1864, e levada para Cuiabá pela mulher do comandante das forças brasileiras, coronel Portocarrero, é devolvida à origem em 27 de junho de 1874, conforme notícia do jornal:

A trasladação efetua-se com imponência sem igual, sendo a imagem acompanhada desde a praça da Sé à rampa do porto geral, ao longo da rua 13 de Junho, trapizada de folhagens pela população inteira de Cuiabá. As varas de pálio, sob cujo docel ia o venerando bispo d. José Antônio dos Reis conduzindo a imagem, foram sustentadas durante o trajeto por veteranos da guerra. Escolhidos entre os que tomaram parte na defesa de Coimbra.


Logo depois do pálio viam-se em grande uniforme o general José de Miranda da Silva Reis, presidente e comandante das armas da província; o almirante barão de Melgaço, autoridades e comandantes militares. Seguia-se a tropa em pelotões; grupos de colegiais, famílias e crescida multidão fechavam o préstito.




FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, 2a. edição, Governo do Estado, Cuiabá, 1973, página 332.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Descobrindo o Pantanal


26 de junho

1786 - Missão científica chega a Corumbá



Por ordem do governador Luis de Albuquerque, com a tarefa de mapear e determinar posições geográficas na região do Pantanal, chega a Albuquerque (atual Corumbá) , em 26 de junho de 1786, a comissão técnica formada pelo capitão-engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra e os geógrafos Antonio Pires da Silva Pontes e Francisco José de Lacerda e Almeida. A finalidade da diligência era a exploração dos rios Paraguai, São Lourenço e Cuiabá e a desembocadura de seus afluentes, bem como as principais lagoas e baias do Pantanal. O termo da expedição foi o forte de Coimbra. 

Sobre o vilarejo de Albuquerque o escriba da caravana inseriu comentário pouco lisonjeiro:

26 - Com marcha de 12 léguas chegamos à povoação de Albuquerque, correndo sempre o rio a Sul com várias voltas. Esta povoação é de miseráveis, que passam a vida cheios de fome e nudez; o comandante dela só cuida em utilizar-se do suor deles. Só estão fartos de palmatoadas, correntes e rodas de pau.


FONTE: Francisco José de Lacerda e Almeida, Diário da Viagem, Assembleia Legislativa da Província de São Paulo, 1841, página 29.

Força brasileira deixa Uberaba

4 de setembro de 1865 Para dar combate ao Paraguai, cujas forças em dezembro de 1864 invadiram o Sul de Mato Grosso, paulistas e min...