Usina Conceição, no início do século XX |
A polícia do coronel Totó Paes, que aliado aos irmãos Murtinho,
expulsou o senador Generoso Ponce, do Estado, em 4 de novembro de 1901, cerca a
sede da fazenda Conceição, do primeiro-vice-presidente João Paes de Barros, que
acabava de romper com o governo, e prende um grupo de oposicionistas refugiados
naquele estabelecimento rural, vizinho da usina Itaicy, de Totó Paes, prende a
todos, exceto o vice-presidente que é obrigado a assinar a carta de renúncia,
seleciona um grupo que é levado a Cuiabá e separa dezessete que são executados
e atirados no lugar conhecido por baia dos Garcêz, no distrito Santo Antonio
Rio Abaixo, atual Santo Antonio do Leverger.
O episódio, que se transformou no discurso da oposição, estigmatizou o período Totó Paes, encerrado com a sua morte em 1906. O fato, de repercussão nacional, foi relatado pelo coronel João Paes de Barros, proprietário da usina onde as vítimas foram aprisionadas:
Feita a seleção dos que deveriam ir por terra a Cuiabá, soube que foram todos amarrados de braços para trás pela escolta que os conduzia, seguindo assim a pé até o lugar denominado "Potreiro", onde, junto a uma baia, conhecida pelo nome de "Garcêz", foram um a um fuzilados, saqueados e os cadáveres com os ventres partidos em cruz para não boiarem, lançados na água à voracidade das piranhas, ficando aí postada uma guarda até que desaparecessem.
Da usina foram ouvidos os tiros, pois, em linha reta, é pequena a distância àquela baia, a qual posto que situada na mesma margem em que está a usina, fica-lhe em frente, pela grande curva que forma ali o rio Cuiabá.
Antes da partida da escolta, Eugênio Vital que tinha hábito de andar grande distância a pé, pediu que lhe permitissem seguir a viagem a cavalo, embora preso e devidamente seguro; a esta súplica foi-lhe respondido;- "que não era muito longa a distância a caminhar, que logo chegariam ao fim". E assim foi.
Ao cair da noite parte da escolta, que seguira com os presos por terra, regressara à usina, narrando sem reservas os horrorosos detalhes da carnificina havida na baia dos Garcêz.
FONTE: Generoso Ponce Filho, Generoso Ponce um chefe, Pongetti, Rio de Janeiro, 1952, página 311.
FOTO: Album Graphico de Mato Grosso, Corumbá, 1914.
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