domingo, 31 de dezembro de 2017
O massacre de Passo Feio
Em 1° de janeiro de 1865, à véspera de ocupar a vila abandonada de Nioaque, a força de ocupação do exército paraguaio, comandada pelo coronel Francisco Resquin, ataca a guarnição militar brasileira que abandonava o local. Muitos conseguiram escapar à perseguição inimiga, mas um grupo foi alcançado e massacrado, conforme relato do comandante paraguaio ao seu superior em Assunção:
Senhor Ministro:
O coronel comandante da coluna de operações sobre o rio Mbotetey, tenho a honra de levar ao conhecimento de V.E. que prosseguindo minha marcha da colônia de Miranda e a três léguas de distância recebi aviso de meu segundo o capitão Blas Rojas, que seguia à vanguarda, que se apresentava à vista uma coluna de cavalaria brasileira de 2 a 300 homens: então dei-lhe ordem para lhe bater, acelerando minha marcha, porém havendo a coluna brasileira ganhado o monte do riacho chamado Passo Feio, mandou dizer seu comandante que queria ver-me; e lhe mandei que escrevesse o que lhe ocorria. A isto escreveu dizendo que desejava falar-me sobre minha internação em território brasileiro e comunicar-me as instruções a respeito; minha constatação foi que a entrevista seria inútil e que assim se entregasse dentro de meia hora prisioneiro de guerra, com toda a tropa sob seu comando, pois ao contrário seria perseguido com rigor; mas não havendo aceito, dei ordem de ataque para o qual, enquanto a troca de comunicações, mandei abrir várias picadas na suposição de que defenderia o passo, porém as picadas foram inúteis, porque ao primeiro canhonaço disparado ao rumo em que se ouvia música, abandonaram o local, disparando tiros de carabina dos quais não conseguiram mais que uma bala que feriu no braço o alferes Camilo Castillo.Nisto passavam alguns esquadrões de cavalaria que se puseram em perseguição, porém debandando-se o inimigo na mais completa desordem e sua fuga em diferentes direções, só haviam reunido dois grupos, como de algo mais que um esquadrão, em um dos quais ia o tenente-coronel D. Antonio Dias da Silva, comandante daquele grupamento, sendo perseguido pelo tenente Blas Ovando, a quem não pude alcançar, porque ao passar a ponte do córrego Desbarrancado, a destruíram, como de antemão haviam preparado, ganhando muito terreno, motivo porque cessamos a perseguição, para não fatigar inutilmente os cavalos.
O outro grupo, que havia tomado outra direção, foi perseguido pelo alferes Ignacio Cabrera com os de sua classe José Pedruesa e Bautista Ramirez, com setenta e cinco de tropa, lhes alcançou, deixando no campo cinquenta e sete mortos e um oficial, fazendo treze prisioneiros, trinta e sete cavalos e oito mulas, com a perda de um soldado e dois feridos de nossa parte.
Dali acampei a uma légua e meia e prosseguindo o dia seguinte, fiz parada a quatro léguas e meia sobre o riacho Pequeno, aproveitando na tarde, a aguada e bom pasto do lugar.
Ao amanhecer do dia seguinte movi o campo e depois de três léguas de marcha, passei o córrego Ponte, e com duas léguas mais o rio Nioaque a uma da madrugada.
FONTE: El Semanário (PY), Assunção, 17 de janeiro de 1865.
FOTO: cavalaria paraguaia, reprodução do filme Alma do Brasil,1932.
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