O governo do interventor Júlio Müller entrega à
população da capital mato-grossense em 20 de janeiro de 1942, a primeira ponte
de concreto sobre o rio Cuiabá, ligando esta cidade ao futuro município de
Várzea Grande. A ponte, estrutura leve de cimento armado tem o comprimento
total de 224 metros, sendo um vão central de 40 metros para passagem da
navegação, largura de 6,80 metros, dando uma chapa de rolamento para dois
veículos e passeio para pedestres. Carga admissível para o trem tipo de 20
toneladas nos dois sentidos.
Era prefeito de Cuiabá Manoel Miraglia, que decretou
feriado municipal nesse dia da inauguração da ponte. A comissão promotora dos
festejos de inauguração, à frente Waldo Olivarria, era composta por Eugênio
Curvo, Aristides Pompeu Campos, Licínio Monteiro da Silva, Manoel Horácio e
João Maia. A ponte foi construída pela firma Coimbra Bueno e o responsável pela obra,iniciada em 1940, foi o engenheiro Cássio Veiga de Sá.
O ponto culminante da solenidade de inauguração foi
o discurso proferido pelo interventor Júlio Müller, onde o governante ressalta
a importância de obra e enaltece a figura do ditador Getúlio Vargas e seu
Estado Nacional:
Senhores
Não me surpreendeu o movimento espontâneo dos meus
conterrâneos e amigos, no sentido de se denominar Júlio Muller a ponte que
mandamos construir sobre o lendário rio Cuiabá. Conheço a gente mato-grossense
e tenho a veleidade de conhecer os seus sentimentos, as suas aspirações, o seu
coração generoso eautruísta.
Aliás, não é necessário que eu vô-lo afirme:
governando o Estado por honrosa delegação do grande e benemérito Chefe
Nacional, presidente Getúlio Vargas, procuro estar em contato direto com os
meus governados, resolvendo sempre em perfeita comunhão de vistas os problemas
cujas soluções vêm sendo reclamadas por todos.
Daí a construção do Grupo Escolar “Afonso Penas”, de
Três Lagoas; daí a construção do quartel, penitenciária e a criação do Liceu
Ginasial de Campo Grande; os estudos do serviço de luz de Cáceres; o
encaminhamento do Ministério da Viação e Obras contra a seca, do memorial da
população poconeana; os auxílios em dinheiro a quase todos os municípios do
Estado; a reconstrução de estradas; a construção de novas e importantes
rodovias; o sem número de pontes construídas e em construção em todos os
quadrantes do Estado, destacando-se esta que reclamáveis há tantos anos e cuja
construção se fazia tão necessária ao desenvolvimento de Cuiabá e de toda
região Oeste de Mato Grosso.
Aqui, entre nós, se encontra o advogado Estevão de
Mendonça que, juntamente com o saudoso Ferreira Mendes, na sua juventude,
através das colunas dos jornais da época, sugeriu ao governo de então a
necessidade de se construir a ponte sobre o Cuiabá. Pois bem, meus amigos, a
atitude daqueles jovens mato-grossenses fora explorada pelos políticos
alegando-se que eles queriam tirar o ganha-pão do concessionário da
barca-pêndulo que era um correligionário político.
Como evoluímos nestes últimos anos!...
Relembrando esse fato eu quero tão somente render
nossas homenagens àqueles ilustres mato-grossenses e demonstrar-vos, mais uma
vez de modo insofismável, as vantagens do regime atual.
Ontem, sob o império da política, com o predomínio
dos partidos, o interesse coletivo, o interesse de um povo inteiro era
postergado para não se descontentar um amigo político, um único
correligionário. Hoje, sob a égide do Estado Nacional sobrepõe-se o interesse
público aos interesses particulares e, esta afirmação é tão oportuna, tão
verídica que aqui nos encontramos para a inauguração desta ponte, um sonho que
se tornou realidade!
Se quereis mais uma prova do acatamento à vontade
popular, do predomínio da vontade do povo no novo regime: aí está esculpido em
bronze, a denominação que destes à ponte contra a vontade do próprio governo,
que a mandou construir, e, entretanto diante do imperativo dos vossos desejos
só restou a esse Governo uma alternativa: acatar a vossa deliberação.
Meus amigos,
Por ocasião do início da construção desta ponte eu
tive oportunidade de vos falar que a obra era vossa. Repito essa afirmação,
neste momento, para pedir a cada habitante deste rincão maravilhoso da pátria,
que cuide, que zele desta ponte, para conservá-la sempre nova, sempre útil a
todos. E nesta hora de contentamentos e emoções profundas, volvamos o nosso
pensamento ao Chefe, pedindo a Deus que lhe dê vida longa para maior grandeza
do Brasil.
FOTO: acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
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