sábado, 10 de março de 2018

Taunay vive romance com índia chané







A comissão de engenheiros da força expedicionária, à frente das tropas estacionadas em Coxim, completa a subida da serra de Maracaju em 11 de março de 1866. O tenente Taunay, integrante do grupo conta como foi a chegada e permanência nos Morros:

No dia 11 de março, depois da subida, em extremo pitoresca, da serra de Maracaju, toda cheia de enormes lajes e pedras soltas, subida que descrevi nas Narrativas Militares e em que meu burro Paysandu se portou admiravelmente, chegamos ao alto, ao pouso dos refugiados da vila e do distrito de Miranda, que tinham ali ido ocultar-se desde fins de janeiro de 1865, por ocasião da invasão paraguaia.

Chamava-se o local Morros e compunha-se de dois verdadeiros acampamentos, um de João Pacheco de Almeida, em cuja casa nos hospedamos, e outro, a meia légua de distância, conhecido por Chico Dias, velho indiático de alguma influência.

Nos morros, onde as forças brasileiras permaneceram até julho, antes de seguirem para Miranda, o jovem Taunay, mantém um romance com "Antonia uma bela rapariga da tribo chooronó (guaná propriamente dita) e da nação chané, descrita pelo autor de Inocência, como muito "bem feita, com pés e mãos regularmente pequenos e mimosos, cintura naturalmente acentuada e fina, moça de quinze para dezesseis anos de idade, tinha um rosto oval, cútis fina, tez mais morena desmaiada do que acaboclada, corada até levemente nas faces, olhos grandes, rasgados, negros cintilantes, boca bonita ornada de dentes cortados em ponta, à maneira dos felinos, cabelos negros, bastos, muito compridos, mas um tanto ásperos".

Para tê-la, além de seu consentimento, agraciado com um colar de contas de ouro, que comprara em Uberaba por "quarenta ou cinquenta mil réis", Taunay teve que pagar ao pai dela uma espécie de dote: um saco de feijão, outro de milho, dois alqueires de arroz, uma vaca para corte e um boi montaria, "o que tudo importava, naquelas alturas e pelos preços correntes, nuns cento e vinte mil réis".

O pouco tempo de convivência do casal foi eternizado nas memórias do autor:

A bela Antônia apegou-se logo a mim e ainda mais eu a ela me apeguei. Em tudo lhe achava graça, especialmente no modo ingênuo de dizer as coisas e na elegância inata dos gestos e movimentos. Embelezei-me de todo por esta amável rapariga e sem resistência me entreguei exclusivamente ao sentimento forte, demasiado forte que em mim nasceu. Passei, pois, ao seu lado dias descuidosos e bem felizes, desejando de coração que muito tempo decorresse antes que me visse constrangido a voltar às agitações do mundo, de que me achava tão separado e alheio.

FONTE: Taunay, Em Mato Grosso invadido, Companhia Melhoramentos,SP, sd, página 22; Memórias, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1946, páginas 201 e 207.

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