domingo, 11 de março de 2018

Paraguaios libertam escravos brasileiros








Jornal oficial do governo paraguaio publica em 11 de março de 1865, notícia anunciando a libertação de escravos brasileiros, na Corumbá ocupada desde o início do ano:

O Taquari conduz a bordo uma infinidade de negros escravos que jaziam em poder se seus amos, baixo ao chicote e a miséria em Corumbá; as armas vitoriosas do Paraguai sobre as hostes do Brasil, tem contribuído para deixar abandonados de seus amos estes seres desgraçados, que se encontraram quase mortos fome pelos desertos e montanhas, de onde foram recolhidos por nossos soldados e conduzidos a esta; estão em completa liberdade. Eles estão distribuídos em diferentes estabelecimentos trabalhando para si, alegres e prazerosos de tão inesperado bem que acabam de receber, que é a liberdade.¹

Ocupado em libertar negros escravos no Brasil, o Paraguai somente viria a abolir oficialmente a escravatura em seu território em 2 de outubro de 1869. De sua pequena população submetida à escravidão, a maioria esmagadora foi recrutada para a guerra. A abolição não chegou a beneficiar 500 negros. Os demais estavam em campos de batalha.²


FONTE: ¹Jornal El Semanario, (Assunção PY), 11 de março de 1865. ²Paraguai Teete.


sábado, 10 de março de 2018

Taunay vive romance com índia chané







A comissão de engenheiros da força expedicionária, à frente das tropas estacionadas em Coxim, completa a subida da serra de Maracaju em 11 de março de 1866. O tenente Taunay, integrante do grupo conta como foi a chegada e permanência nos Morros:

No dia 11 de março, depois da subida, em extremo pitoresca, da serra de Maracaju, toda cheia de enormes lajes e pedras soltas, subida que descrevi nas Narrativas Militares e em que meu burro Paysandu se portou admiravelmente, chegamos ao alto, ao pouso dos refugiados da vila e do distrito de Miranda, que tinham ali ido ocultar-se desde fins de janeiro de 1865, por ocasião da invasão paraguaia.

Chamava-se o local Morros e compunha-se de dois verdadeiros acampamentos, um de João Pacheco de Almeida, em cuja casa nos hospedamos, e outro, a meia légua de distância, conhecido por Chico Dias, velho indiático de alguma influência.

Nos morros, onde as forças brasileiras permaneceram até julho, antes de seguirem para Miranda, o jovem Taunay, mantém um romance com "Antonia uma bela rapariga da tribo chooronó (guaná propriamente dita) e da nação chané, descrita pelo autor de Inocência, como muito "bem feita, com pés e mãos regularmente pequenos e mimosos, cintura naturalmente acentuada e fina, moça de quinze para dezesseis anos de idade, tinha um rosto oval, cútis fina, tez mais morena desmaiada do que acaboclada, corada até levemente nas faces, olhos grandes, rasgados, negros cintilantes, boca bonita ornada de dentes cortados em ponta, à maneira dos felinos, cabelos negros, bastos, muito compridos, mas um tanto ásperos".

Para tê-la, além de seu consentimento, agraciado com um colar de contas de ouro, que comprara em Uberaba por "quarenta ou cinquenta mil réis", Taunay teve que pagar ao pai dela uma espécie de dote: um saco de feijão, outro de milho, dois alqueires de arroz, uma vaca para corte e um boi montaria, "o que tudo importava, naquelas alturas e pelos preços correntes, nuns cento e vinte mil réis".

O pouco tempo de convivência do casal foi eternizado nas memórias do autor:

A bela Antônia apegou-se logo a mim e ainda mais eu a ela me apeguei. Em tudo lhe achava graça, especialmente no modo ingênuo de dizer as coisas e na elegância inata dos gestos e movimentos. Embelezei-me de todo por esta amável rapariga e sem resistência me entreguei exclusivamente ao sentimento forte, demasiado forte que em mim nasceu. Passei, pois, ao seu lado dias descuidosos e bem felizes, desejando de coração que muito tempo decorresse antes que me visse constrangido a voltar às agitações do mundo, de que me achava tão separado e alheio.

FONTE: Taunay, Em Mato Grosso invadido, Companhia Melhoramentos,SP, sd, página 22; Memórias, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1946, páginas 201 e 207.

Cabo Getúlio Vargas serve ao exército em nosso Estado



 Getúlio Vargas, cabo do 25 de Infantaria de Porto Alegre

 

Ante a ameaça de invasão da fronteira por forças bolivianas, tropas do exército brasileiro chegam a Corumbá, em 10 de março de 1903, sob o comando do general João Cezar Sampaio. São os batalhões 16, 25 e 29 de Infantaria, de Porto Alegre, que reunidos ao 21 de Infantaria e ao 2º. de artilharia locais, constituem um efetivo de dois mil homens. Integrante do 25 de Porto Alegre, fazia parte das tropas o cabo Getúlio Vargas.¹ A concentração de forças em Corumbá esteve ligada à questão do Acre, permaneceram na cidade até o mês de abril do ano seguinte e enquanto estiveram na cidade exerceram função policial, conforme constata Estêvão de Mendonça:

Nos primeiros dias de sua chegada observam que, durante a noite, a cidade era ponteada por sucessivas detonações, cujos projetis passavam por vezes sobre o hotel Internacional, em que se hospedara. Encontrou por esta forma a exposição do aspecto taciturno das ruas à proporção que a noite avançava. Determinou um patrulhamento rigoroso, sem excessos. Em pouco tempo a cidade oferecia outro aspecto, sendo as principais artérias percorridas por cavalheiros e senhoras durante as primeiras horas da noite.²

Sobre Getúlio Vargas nessa missão, narra-o seu conterrâneo Mário Lima Beck:

Nas fileiras desse batalhão alinhava-se um cabo de esquadra, um moço, baixo, rotundo e risonho, que trinta anos depois seria o chefe discricionário da nação!

Punidos por insubordinação, Getúlio Vargas e outros cadetes são desligados da Escola Militar de Rio Pardo e incorporados ao 25° B.I. Todos são enviados para a "Sibéria canicular do nosso exército" como Euclides da Cunha chamava naquele tempo a Mato Grosso. 

Tropa de elite criou logo grande círculo de simpatias na cidade matogrossense. O cabo Getúlio tornou-se em breve assaz conhecido. Embora aparentemente quietarrão e frio, sabia cativar pela educação gentil e maneirosa. As vezes parecia inacessível e de repente viam-no na maior camaradagem entre os soldados. Simulava imperturbável seriedade e logo participava gostosamente duma pândega. Nunca porém, perdeu compostura e equilíbrio...Hábil dosador de pragmatismo. Fingia, dizem, indiferença às mulheres e elas se interessavam por ele. Contam que uma jovem corumbaense dedicou-lhe acendrada paixão.

Sabia comandar com senso e oportunidade. Em todas as circunstâncias era raciocinador tranquilo. Calculista sistemático em todos os rumos de sua conduta. Já naquela época a psicologia do cabo Getúlio Vargas, exibia matizes curiosos, que intrigariam a um Lazurski e outros estudiosos da individualidade humana. Em setembro do mesmo ano, promovido a sargento, Getúlio regressa a Porto Alegre. 

FONTE: ¹Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969, página 169, ²Estêvão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2a. edição) Governo de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 123 e Mario Lima Beck, Nova Querência, Livraria Selbach, Porto Alegre, 1935, página 53.
FOTO: reprodução. Meramente ilustrativa.

terça-feira, 6 de março de 2018

Inaugurado o Liceu Cuiabano








Perante numerosa assistência, composta das principais autoridades da província, à frente o presidente da província, Eneas Galvão, o barão de Maracaju e o bispo dom Luis d'Amour, é oficialmente instalado em 7 de março de 1880, o Liceu Cuiabano, órgão do ensino público de fundamental importância para o desenvolvimento educacional da capital de Mato Grosso. Da solenidade inaugural lavrou-se ato, o qual sintetizamos:

Aos sete dias do mês de março de 1880, antecedentemente designado por S. Exa. o Sr. Presidente da Província, presentes às nove horas da manhã, no edifício destinado para nele funcionar, o liceu desta capital, os Exmos. Srs. Presidente da Província, Barão de Maracaju, Bispo Diocesano Dom Carlos Luis D'amour, diretor geral da instrução pública Dr. Dormevil José dos Santos Malhado, os professores do estabelecimento Antonio Correa da Silva Pereira, José Magno da Silva Pereira, Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, Antonio Correa da Costa, João Pedro Gardès e José Estevão Correa, diversas autoridades civis e militares e pessoas gradas desta Capital, o sr. presidente da Província abriu a sessão declarando, depois de uma breve alocuação, estar instalado o Liceu Cuiabano da Província de Mato Grosso, criado pela lei provincial n° 536, de 3 de dezembro de 1879.¹


Em sua mensagem anual aos deputados, o governador destacou a importância do liceu:


Este estabelecimento inaugurado com toda a solenidade no dia 7 de março do corrente ano, compreende dois cursos de humanidades a saber:


O curso normal que se restringe a gramática da língua nacional, filosófica e literatura pátria, pedagogia e metodologia, matemática elementar, geografia geral e história do Brasil e o curso chamado de línguas e ciências preparatórias, que abrange, além das disciplinas que constituem o curso normal, com exceção de pedagogia e metodologia, as seguintes matérias:latim, francês, inglês, filosofia racional e moral, retórica e história universal.


O primeiro destes dois cursos tem por fim preparar professores e professoras para o magistério do ensino primário; o segundo habilitar os aspirantes à matrícula nos cursos superiores do país.


A criação deste tão útil estabelecimento é de muito alcance para o programa da Província, pois, desapareceu assim a barreira que vedava aos pais, que dispunham de poucos recursos, proporcionar a seus filhos uma educação mais completa, porque aqui mesmo receberão, sem grandes dispêndios, a instrução apropriada a sua vocação e se habilitarão para o estudo dos cursos superiores.
²

FONTE: Estevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2a. edição) Governo de Mato Grosso, Cuiabá,1973, página 120, ²Presidente Barão de Maracaju, Mensagem à Assembleia Provincial, 1° de outubro de 1880.
FOTO: primeira sede do Liceu Cuiabano, reproduzido do Albim Grephico de Matto-Grosso, Corumbá, 1914.

segunda-feira, 5 de março de 2018

"Comunistas" atacam Mate Larangeira




Campanário, sede brasileira da Matte Larangeira,alvo não alcançado pelos rivais da companhia





Conseqüência de uma pendenga por posse de uma área de terra, o fazendeiro João Ortt, juntando pequeno grupo de amigos decide enfrentar a poderosa companhia que monopolizava a exploração e comércio da erva mate no Sul de Mato Grosso. Partiu de Maracaí, nome de sua propriedade, em litígio, em 5 de março de 1932. "Em vários pontos - acompanha-o o cronista Humberto Puiggari - já deveriam estar a postos outros grupos armados que se iriam incorporando ao que comandava pessoalmente. Caso fosse bem sucedido no arriscado empreendimento, tomaria Campanário, sede da empresa e imporia condições de modo a deixá-lo tranqüilo na 'posse' Maracahy.

Seguindo um plano anteriormente traçado fez atacar o rancho Paraná pelo seu lugar tenente Eduardo Cubas. Foi o primeiro fracasso. Sem desanimar dirigiu-se a determinado sítio onde deveria estar à sua espera um numeroso contingente armado. Lá não encontrou ninguém. Desanimado, finalmente, dissolveu o grupo que o acompanhava e passou-se para o território paraguaio, exilando-se voluntariamente."


A reação foi imediata, fulminante e de grande truculência:


A Empresa, de parceria com as autoridades policiais e com o objetivo de não deixar aparecer o motivo real do levante, passou a telegrafar aos quatro ventos, que nos ervais havia surgido uma revolução...COMUNISTA! Pobre João Ortt... elevado à dignidade de chefe comunista, sem saber mesmo até hoje o que venha a ser comunismo.


No Paraguai, recebia João Ortt notícias dos espancamentos e assassínios dos seus amigos comunistas, crimes esses cometidos por gente que se dizia da Empresa, aliada às autoridades locais. Somente em Sacarón, distrito onde está situada a 'posse' Maracahy, foram barbaramente assassinadas cinco pessoas: José M. Gadioso - degolado; Nicolás Martinez, degolado; o menor Pedro Rodrigues, fuzilado; um casal de índios, fuzilados e os corpos atirados na corrente do rio Maracahy.


Um mês depois, João Orth retornaria ao Brasil e voltaria a atacar a empresa,  dessa vez confrontando-se com forças do exército.



FONTE: Umberto Puigari, Nas fronteira de Mato Grosso, terra abandonada..., Casa Mayença, São Paulo, 1933. Página 113.
FOTO: Luiz Alfredo Marques Magalhães, Retratos de uma época, (2ª edição), edição do autor, Campo Grande, 2013, página 169. 

quinta-feira, 1 de março de 2018

Rondon convidado para chefiar serviço de proteção aos índios








Em carta de 2 de março de 1910, assinada pelo ministro Rodolfo Miranda, de Agricultura, Indústria e Comércio, do governo de Nilo Peçanha, Rondon é oficialmente convidado para a direção do recém-criado Serviço de Proteção aos Índios:

Exmo. Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon:

Visa a presente carta revestir de cunho oficial o convite que, pessoalmente, vos dirigi em nome da causa de nossos silvícolas.

A espontaneidade da escolha de vosso nome para fomentar e dirigir a catequese que o Governo da República deliberou empreender é a consagração formal da conduta humanitária, generosa, que tanto vos recomendou à confiança do indígena, na longa e heróica jornada que realizastes em zonas até então vedadas aos mais audaciosos exploradores.

Quem, denodadamente e com rara abnegação, sacrificou a sua quietude, a calma do lar, a sua própria vida, por bem servir à nação; quem pode fazer do indígena a plenitude do seu domínio no seio das florestas, defendido dos artifícios da civilização pelas asperezas da vida inculta - um amigo, um guia cuidadoso, reúne, sem dúvida, os requisitos de bondade, de altruísmo que devem caracterizar a campanha que há de redimir do abandono os nossos silvícolas e integrá-los na posse de seus direitos.

Não cabe ao Governo insistir em práticas seculares que falharam aos seus ideais, revelando-se, no longo decurso do seu predomínio, baldas de prestígio para deter a corrente da raça varonil que votava à escravidão e ao extermínio. Cumpre-lhe, ao contrário, constituir, em bases novas, a catequese, imprimir-lhe a feição republicana, fora do privilégio de castas, sem preocupação de proselitismo religioso, constituindo serviço especial centralizado na Capital, com irradiação pelos Estados onde se torne necessária a ação que é chamado a exercer, pacientemente e sem intermissão de esforços.

A direção superior desse serviço vos será confiada, se aquiescerdes à consulta que ora vos faço, antes das formalidades oficiais de requisição ao Ministério a quem pertenceis, e tenho bem radicada em meu espírito a confiança de que será satisfeita a aspiração comum, mediante o influxo de vossa cultura científica, de vossa capacidade moral, de vossa fé republicana e da energia de vontade que vos faz o primeiro dentre os exporadores do território brasileiro.

Em carta de 14 de março seguinte ao ministro Rodolfo de Miranda, o coronel Rondon aceita o convite e apresenta uma série de medidas que deveria tomar para cumprir a missão.


FONTE: Esther de Viveiros, Rondon conta sua vida, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1968, página 338.

Força brasileira deixa Uberaba

4 de setembro de 1865 Para dar combate ao Paraguai, cujas forças em dezembro de 1864 invadiram o Sul de Mato Grosso, paulistas e min...