Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, que resultou na renúncia do presidente Caetano Manoel de Faria e Albuquerque e na intervenção federal que durou um ano, assume o governo, em 22 de janeiro de 1918, o bispo de Cuiabá, Dom Francisco de Aquino Correa, no que foi chamado de governo da conciliação.¹
O Matto-Grosso, principal órgão da imprensa no Estado, publicou reportagem completa sobre o dia da posse do novo presidente:
Desde o alvorecer da manhã de 22,apenas se teve
aviso da passagem da lancha Iguatemi em S. Antonio do Rio Abaixo, toda a Cuiabá
se pôs em preparativos para receber carinhosamente D. Aquino, sabedores como
eram todos de que S. Exa. Para aqui se encaminhava a bordo daquela embarcação.
As comissões incumbidas de irem ao encontro do
querido eleito do povo mato-grossense puseram-se em ação, e às 9 ½ descia o
Cuiabá a lancha 13 de Junho da Secretaria da Agricultura, levando a seu bordo a
comissão central encarregada da recepção a D. Aquino, composta dos srs. Capitão
tenente Paes de Oliveira, coronéis João Celestino, Gurgel do Amaral, Manoel
Moreira, drs. Campos Junior e Geonísio de Mendonça, representantes do
interventor federal; D. Antonio Malan por si, e padres Batista Couturon e
Colbachini representando a Congregação Salesiana do Estado.
A bordo da “Rosa Bororo” desceu o coronel Alexandre
Addor, intendente geral do município, acompanhado de diversos cidadãos da elite
cuiabana, dentre eles o capitão Romão da Silva Pereira, representante da
guarnição federal desta cidade.
Assim organizada a embaixada que ia ao encontro de
D. Aquino, seguiu improvisada flotilha até um pouco abaixo do Poço Grande onde
foi encontrada a Iguatemi que sulcava, garbosamente embandeirada as águas
barrentas do Cuiabá.
Passando daí em diante a acompanha-la os transportes
que tinham ido ao seu encontro, seguiram-na até a usina do sr. Joaquim Martins,
onde as diversas comissões daqui enviadas transbordaram para o Iguatemi,
apresentando então a D. Aquino as boas-vindas
e votos de felicidade pelo seu governo.,
Prosseguindo os itinerantes em demanda da cidade,
aqui desembarcaram por volta de meio dia, sendo D. Aquino alvo das mais
estrepitosas palmas ao pisar na terra cuiabana.
Ao desembarcar em companhia do dr. Camilo Soares,
que o fora trazer a bordo da Iguatemi, foi saudado pelo cel. Alexandre Magno
Addor que em nome do governo municipal apresentou boas vindas à S. Exa.
Do seio do povo dirigiu a palavra ao recém vindo, o
sr. Tomé Ribeiro.
O CORTEJO
Depois de recebidos por D. Aquino os cumprimentos de
diversos representantes dos partidos políticos do Estado, de congregações
religiosas e da imprensa, organizou-se imponente cortejo que respeitosoe
vivamente possuído de entusiasmo, acompanhou S.Exa. em demanda da residência
oficial.
Ao passar o virtuoso prelado em frente a a igreja de
S. Gonçalo, de uma tribuna ali improvisada, saudou-o um inteligente aluno do
Liceu Salesiano, sendo logo substituído pelo delegado da sociedade de S. Luiz
Gonzaga que apresentou em nome de seus consócios votos auspiciosos de boas
vindas a Dom Aquino.
Em sinal de estima para com este futuroso rebento da
estirpe cuiabana, discursou também enaltecendo-lhes as virtudes morais e
cívicas e augurando dias venturosos no seu governo a gentil senhorita Alda de
Oliveira.
Falou por último, abundando nos mesmos conceitos dos
oradores que o precederam o sr. João Nunes.
Continuando seu caminho o préstito cívico teve que
parar novamente à praça da República para ouvir o ilustre dr. José Mesquita,
que ali pronunciou um substancioso discurso, saudando o presidente eleito em
nome do povo mato-grossense.
Abafadas pelas mais estrepitosas palmas as últimas
palavras do orador, o préstito que cada vez mais se avolumara atravessou por
entre duas alas formadas pelas alunas de todas as escolas e colégios públicos e
particulares de Cuiabá, tendo D. Aquino feito o trajeto da República até ao
palacete de sua nova residência, debaixo de uma verdadeira chuva de flores que
lhe arremessava a petizada vivaz de nossas escolas.
NA RESIDÊNCIA PRESIDENCIAL
Chegando D. Aquino Correa no palacete da rua Pedro
Celestino onde está residindo, aí saudou-o pela Assembleia Legislativa o sr.
desembargador Trigo de Loureiro que em nome da corporação política a que
pertence, hipotecou ao governo que se ia iniciar, todo o apoio e colaboração do
poder legislativo estadual.
DOM AQUINO FALA AO POVO DE CUIABÁ
Depois de ouvida atentamente a palavra do
representante da Assembleia Legislativa, ficou a multidão que concorrera às
festas da recepção a D. Aquino, sôfrega por ouvir-lhe a palavra sempre fluente
e a frase sempre burilada.
S. Exa. Começou o seu discurso por agradecer
nominalmente a todos os que o haviam saudado ao chegar a esta cidade, em nome
individual ou por mandato e terminou por agradecer em palavras repassadas de
gratidão e sinceridade o carinho com que vinha sendo distinguido.
Na sua bondade em tudo revelada, não esqueceu nem
mesmo o concurso prestado pelos selvícolas à sua brilhante recepção.
Perorando acentuou o desprendimento dos partidos
políticos do Estado aceitando a sua candidatura à Presidência, para se firmar
um regime de paz e de concórdia, e enalteceu a colaboração dos drs. Wenceslau
Brás e Camilo Soares, pela vitória desta primeira etapa na política de Mato
Grosso.
As últimas palavras de S.Exa. foram acompanhadas dos
mais expressivos aplausos, findos os quais dispersou-se a massa popular
O COMPROMISSO DO PRESIDENTE ELEITO E DOS SEUS
SUBSTITUTOS LEGAIS
Às 17 horas penetrou no edifício onde funciona a
Assembleia Legislativa, que estava reunida em sessão. S.Exa. D. Aquino Correa,
que foi ali recebido pelos deputados: drs. Eurindo Neves, Rangel Torres e cel.
Pilades Rebuá, que o levaram a tomar assento à esquerda do presidente da
Assembleia, o vice em exercício, cel. Faria Albernaz.
Para o fim de prestar o compromisso do cargo de 1°
vice-presidente do Estado, compareceu ao passo da Assembleia o dr. Antonio
Ferrari, bem como o capitão Paes de Oliveira, para fazê-lo ao de 3°.
Prestado por S.Exa. D. Aquino o compromisso e pelos
seus substitutos constitucionais já referidos, ouviu-se demorada salva de
palmas, logo que o presidente da Assembleia proclamou empossados os cidadãos
compromissados.
Ao se retirar D. Aquino do edifício da Assembleia,
fora como acontecera ao penetrar ali, recebido com as continências de estilo,
prestadas por uma companhia do 1° Batalhão da Força Pública, comandada pelo
cap.Benedito Augusto de Carvalho e pelo esquadrão de cavalaria.
Tanto na ida como em seu regresso teve uma
concorrência numerosíssima no seu acompanhamento.
NO PALÁCIO DO GOVERNO
De volta da Assembleia D. Aquino se dirigiu ao
palácio do Governo onde foi recebido pelo dr.Camilo Soares e seus auxiliares.
Este, na qualidade de interventor federal, leu
perante S. Exa. uma exposição de sua gestão no período em que aqui desempenhou
funções governamentais e terminou por apresentar a D. Aquino Correa, votos de
felicidade pelo seu governo.
Respondendo S. Exa. às palavras do dr. Camilo
Soares, disse que o seu programa de governo podia se reduzir a esta trilogia:
paz, economia e trabalho..
Referindo-se à primeira das facetas do plano
traçado, disse, precisamos ter uma paz generalizada e completa, isto é,
mantê-la entre o Estado e os poderes centrais da República+, cultivá-la entre
si os poderes constituídos do Estado, e procurarem-na de modo eficiente os
partidos políticos, conservando-se mesmo cada um em seu posto e independente de
fusão.
S. Exa. encareceu depois as conveniências de
rigorosa economia em seu governo para o que disse muito contar com o poder
legislativo, e, por último apelou para todas as forças vitais do Estado, para,
sob os auspícios da concórdia, da economia e do trabalho promovermos o
progresso e o engrandecimento de Mato Grosso.
Retirando-se S. Exa.do palácio do Governo, sendo-lhe
prestadas as continências da pragmática, dirigiu-se à sua residência
acompanhado de crescido número de autoridades e amigos.
FONTE: ¹Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso (volume I), Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, Página 111. ²O Matto-Grosso, (Cuiabá) 24 de janeiro de
1918.
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