terça-feira, 9 de abril de 2019

Armas contra a eleição







Não reconhecendo o resultado da eleição que favorecia ao coronel Generoso Ponce e ao seu candidato João Felix, o usineiro Antônio Paes de Barros, Totó Paes, aliado aos Murtinhos, dissidentes de Ponce, com exército de mercenários, invade Cuiabá e decide impedir à força o reconhecimento do resultado eleitoral pela Assembleia Legislativa, que é cercada e o seu presidente, o próprio Generoso Ponce, recebe, redigido com irônica sutileza, em 9 de abril de 1899, o seguinte ultimato:
 
Tenho a honra de comunicar-vos que se acha a Divisão Patriótica – Campos Salles – organizada com o fim especial de garantir a Assembleia Legislativa do Estado no julgamento da eleição procedida a 1º de março último nos cargos de presidente e vice-presidente do Estado no futuro quatriênio a começar de 15 de agosto. A notícia de tratar-se do assunto do corpo de polícia militar, do armamento de paisanos em grande número, vindo do interior, do entrincheiramento das ruas desta cidade principalmente das que rodeariam o edifício onde funciona a Assembléia, de todo este aparato bélico de que é testemunha a população inteira desta capital, tomada de natural terror, inspirou a idéia de reunir a divisão patriótica sob o meu comando afim de assegurar no meio desta atmosfera de ameaças à independência dos representantes do povo sobre cujo ânimo talvez se tenha pretendido atuar por tal forma para alcançar a aprovação de uma série de atas de eleições simuladas em prejuízo da justiça e da verdade do regime republicano.


Contando com o apoio patriótico que lhe é oferecido, poderá a Assembleia no exercício de uma das suas mais elevadas atribuições, obrar mais livremente, anulando ou aprovando como entender em sua sabedoria, as eleições que vão ser apuradas sem que os seus dignos membros tenham a recear qualquer consequência de votos que derem no desempenho da delicada missão a eles conferidas por lei.

 
Na persuasão de que prestamos assim um serviço às instituições que nos regem, assegurando o seu funcionamento regular na situação anormal que atravessa o Estado, cabe-me solicitar que transmitais à Assembleia o conhecimento das verdadeiras intenções que animam a divisão patriótica e o seu respeito e acatamento às deliberações que forem legitimamente decretadas por ela. Saúde e fraternidade. Antônio Paes de Barros.



No dia seguinte, Ponce envia ofício ao coronel Totó Paes,  recusando o "apoio". CLIQUE AQUI e veja a resposta de Ponce.
 

FONTE: Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967. Páginas 68 e 69.


FOTO: prédio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso em Cuiabá, na atual rua Pedro Celestino, esquina com a rua Campo Grande. Foto extraída do Album Grphico de Matto-Grosso, 1914.

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