segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Dom Aquino assume o governo




Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, que resultou na renúncia do presidente Caetano Manoel de Faria e Albuquerque e na intervenção federal que durou um ano, assume o governo, em 22 de janeiro de 1918, o bispo de Cuiabá, Dom Francisco de Aquino Correa, no que foi chamado de governo da conciliação.¹

O Matto-Grosso, principal órgão da imprensa no Estado, publicou reportagem completa sobre o dia da posse do novo presidente:




Desde o alvorecer da manhã de 22,apenas se teve aviso da passagem da lancha Iguatemi em S. Antonio do Rio Abaixo, toda a Cuiabá se pôs em preparativos para receber carinhosamente D. Aquino, sabedores como eram todos de que S. Exa. Para aqui se encaminhava a bordo daquela embarcação.


As comissões incumbidas de irem ao encontro do querido eleito do povo mato-grossense puseram-se em ação, e às 9 ½ descia o Cuiabá a lancha 13 de Junho da Secretaria da Agricultura, levando a seu bordo a comissão central encarregada da recepção a D. Aquino, composta dos srs. Capitão tenente Paes de Oliveira, coronéis João Celestino, Gurgel do Amaral, Manoel Moreira, drs. Campos Junior e Geonísio de Mendonça, representantes do interventor federal; D. Antonio Malan por si, e padres Batista Couturon e Colbachini representando a Congregação Salesiana do Estado.


A bordo da “Rosa Bororo” desceu o coronel Alexandre Addor, intendente geral do município, acompanhado de diversos cidadãos da elite cuiabana, dentre eles o capitão Romão da Silva Pereira, representante da guarnição federal desta cidade.


Assim organizada a embaixada que ia ao encontro de D. Aquino, seguiu improvisada flotilha até um pouco abaixo do Poço Grande onde foi encontrada a Iguatemi que sulcava, garbosamente embandeirada as águas barrentas do Cuiabá.


Passando daí em diante a acompanha-la os transportes que tinham ido ao seu encontro, seguiram-na até a usina do sr. Joaquim Martins, onde as diversas comissões daqui enviadas transbordaram para o Iguatemi, apresentando então a D. Aquino as boas-vindas  e votos de felicidade pelo seu governo.,


Prosseguindo os itinerantes em demanda da cidade, aqui desembarcaram por volta de meio dia, sendo D. Aquino alvo das mais estrepitosas palmas ao pisar na terra cuiabana.



Ao desembarcar em companhia do dr. Camilo Soares, que o fora trazer a bordo da Iguatemi, foi saudado pelo cel. Alexandre Magno Addor que em nome do governo municipal apresentou boas vindas à S. Exa.



Do seio do povo dirigiu a palavra ao recém vindo, o sr. Tomé Ribeiro.



O CORTEJO



Depois de recebidos por D. Aquino os cumprimentos de diversos representantes dos partidos políticos do Estado, de congregações religiosas e da imprensa, organizou-se imponente cortejo que respeitosoe vivamente possuído de entusiasmo, acompanhou S.Exa. em demanda da residência oficial.



Ao passar o virtuoso prelado em frente a a igreja de S. Gonçalo, de uma tribuna ali improvisada, saudou-o um inteligente aluno do Liceu Salesiano, sendo logo substituído pelo delegado da sociedade de S. Luiz Gonzaga que apresentou em nome de seus consócios votos auspiciosos de boas vindas a Dom Aquino.



Em sinal de estima para com este futuroso rebento da estirpe cuiabana, discursou também enaltecendo-lhes as virtudes morais e cívicas e augurando dias venturosos no seu governo a gentil senhorita Alda de Oliveira.


Falou por último, abundando nos mesmos conceitos dos oradores que o precederam o sr. João Nunes.


Continuando seu caminho o préstito cívico teve que parar novamente à praça da República para ouvir o ilustre dr. José Mesquita, que ali pronunciou um substancioso discurso, saudando o presidente eleito em nome do povo mato-grossense.


Abafadas pelas mais estrepitosas palmas as últimas palavras do orador, o préstito que cada vez mais se avolumara atravessou por entre duas alas formadas pelas alunas de todas as escolas e colégios públicos e particulares de Cuiabá, tendo D. Aquino feito o trajeto da República até ao palacete de sua nova residência, debaixo de uma verdadeira chuva de flores que lhe arremessava a petizada vivaz de nossas escolas.



NA RESIDÊNCIA PRESIDENCIAL



Chegando D. Aquino Correa no palacete da rua Pedro Celestino onde está residindo, aí saudou-o pela Assembleia Legislativa o sr. desembargador Trigo de Loureiro que em nome da corporação política a que pertence, hipotecou ao governo que se ia iniciar, todo o apoio e colaboração do poder legislativo estadual.



DOM AQUINO FALA AO POVO DE CUIABÁ

Depois de ouvida atentamente a palavra do representante da Assembleia Legislativa, ficou a multidão que concorrera às festas da recepção a D. Aquino, sôfrega por ouvir-lhe a palavra sempre fluente e a frase sempre burilada.



S. Exa. Começou o seu discurso por agradecer nominalmente a todos os que o haviam saudado ao chegar a esta cidade, em nome individual ou por mandato e terminou por agradecer em palavras repassadas de gratidão e sinceridade o carinho com que vinha sendo distinguido.



Na sua bondade em tudo revelada, não esqueceu nem mesmo o concurso prestado pelos selvícolas à sua brilhante recepção.



Perorando acentuou o desprendimento dos partidos políticos do Estado aceitando a sua candidatura à Presidência, para se firmar um regime de paz e de concórdia, e enalteceu a colaboração dos drs. Wenceslau Brás e Camilo Soares, pela vitória desta primeira etapa na política de Mato Grosso.



As últimas palavras de S.Exa. foram acompanhadas dos mais expressivos aplausos, findos os quais dispersou-se a massa popular



O COMPROMISSO DO PRESIDENTE ELEITO E DOS SEUS SUBSTITUTOS LEGAIS



Às 17 horas penetrou no edifício onde funciona a Assembleia Legislativa, que estava reunida em sessão. S.Exa. D. Aquino Correa, que foi ali recebido pelos deputados: drs. Eurindo Neves, Rangel Torres e cel. Pilades Rebuá, que o levaram a tomar assento à esquerda do presidente da Assembleia, o vice em exercício, cel. Faria Albernaz.



Para o fim de prestar o compromisso do cargo de 1° vice-presidente do Estado, compareceu ao passo da Assembleia o dr. Antonio Ferrari, bem como o capitão Paes de Oliveira, para fazê-lo ao de 3°.



Prestado por S.Exa. D. Aquino o compromisso e pelos seus substitutos constitucionais já referidos, ouviu-se demorada salva de palmas, logo que o presidente da Assembleia proclamou empossados os cidadãos compromissados.



Ao se retirar D. Aquino do edifício da Assembleia, fora como acontecera ao penetrar ali, recebido com as continências de estilo, prestadas por uma companhia do 1° Batalhão da Força Pública, comandada pelo cap.Benedito Augusto de Carvalho e pelo esquadrão de cavalaria.



Tanto na ida como em seu regresso teve uma concorrência numerosíssima no seu acompanhamento.



NO PALÁCIO DO GOVERNO



De volta da Assembleia D. Aquino se dirigiu ao palácio do Governo onde foi recebido pelo dr.Camilo Soares e seus auxiliares.



Este, na qualidade de interventor federal, leu perante S. Exa. uma exposição de sua gestão no período em que aqui desempenhou funções governamentais e terminou por apresentar a D. Aquino Correa, votos de felicidade pelo seu governo.



Respondendo S. Exa. às palavras do dr. Camilo Soares, disse que o seu programa de governo podia se reduzir a esta trilogia: paz, economia e trabalho..



Referindo-se à primeira das facetas do plano traçado, disse, precisamos ter uma paz generalizada e completa, isto é, mantê-la entre o Estado e os poderes centrais da República+, cultivá-la entre si os poderes constituídos do Estado, e procurarem-na de modo eficiente os partidos políticos, conservando-se mesmo cada um em seu posto e independente de fusão.



S. Exa. encareceu depois as conveniências de rigorosa economia em seu governo para o que disse muito contar com o poder legislativo, e, por último apelou para todas as forças vitais do Estado, para, sob os auspícios da concórdia, da economia e do trabalho promovermos o progresso e o engrandecimento de Mato Grosso.



Retirando-se S. Exa.do palácio do Governo, sendo-lhe prestadas as continências da pragmática, dirigiu-se à sua residência acompanhado de crescido número de autoridades e amigos.


FONTE: ¹Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso (volume I), Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, Página 111. ²O Matto-Grosso, (Cuiabá) 24 de janeiro de 1918.
 
 

domingo, 21 de janeiro de 2018

A morte de Ricardo Franco





Aos 61 anos, falece no Forte Coimbra, em Forte Coimbra, Ricardo Franco de Almeida Serra. Nascido na cidade do Porto, em Portugal, veio para Mato Grosso como auxiliar do presidente da província Luiz de Albuquerque de Mello Pereira. Sua trajetória no Estado é resumida por Rubens de Mendonça:

Fez importantes explorações geográficas. Reconstruiu o Forte de Coimbra em 1797 e o defendeu gloriosamente em 1801. Foi o maior auxiliar do Capitão General Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Foi governador interino da Capitania. Comandou a fronteira do Baixo Paraguai, demarcou a fronteira da Barra do Jauru ao Madeira, de acordo com o tratado de 1777, explorou vários afluentes do Amazonas, fez o levantamento hidrográfico do Madeira e Guaporé. Explorou os campos dos Parecis, as cabeceiras de Jauru, do Barbado, do Juruena e toda a região fronteira entre a boca daquele rio e Vila Bela, seguindo depois pelo Paraguai abaixo até a Baía Negra e rio acima até o Cuiabá.


O nome de Ricardo Franco, junto com Vespasiano Barbosa Martins, Coronel Camisão e o tenente Antonio João, está na letra do Hino de Mato Grosso do Sul.
 

FONTE: Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Mato-grossense, edição do autor, Cuiabá, 1971, página 145.

A morte de Pedro Celestino





Aos 72 anos, morre em Petrópolis, no Rio de Janeiro, Pedro Celestino Correa da Costa, deputado estadual constituinte, vice-presidente do Estado de Mato Grosso, presidente do Estado e senador da República. Sua morte é lamentada e sua obra revista no editorial do jornal católico, A Cruz, de Cuiabá:

O grande mato-grossense, cujo desaparecimento constitui, nesta hora, sobretudo, um golpe dos mais dolorosos para a nossa terra, nasceu a 5 de julho de 1860, no sítio do Bom Jardim, distrito de Serra-Acima.

Pertencente a uma ilustre linhagem, que deu a Mato Grosso muitas figuras de destaque na administração, na política e no domínio da pura inteligência, foram seus pais o capitão Antonio Correa da Costa e D. Inês Maria Luiz Correa da Costa (da família Souza Prado).

Formado em Farmácia, em 1881, abriu em Cuiabá, uma “botica” que, graças à sua tenacidade, competência e amor ao trabalho, se tornou dentro em pouco a primeira no gênero entre nós.

Ingressando na política foi, logo após a proclamação da República, eleito deputado à Assembleia Constituinte, da qual é o penúltimo membro que desaparece, somente sobrevivendo o cel. Virgílio Alves Correa.

A sua atuação na política e em cargos de administração pública o impôs logo a confiança e estima de seus concidadãos, de cujos direitos se fez sempre o desinteressado paladino nas mais difíceis e às vezes trágicas conjunturas. Elevado à vice-presidência do Estado, com Manoel Murtinho, em 1891, foi novamente escolhido para esse cargo em 1907, ao lado de Generoso Ponce, a quem lhe coube substituir, ao cabo de um ano de governo. O que foi a sua diretriz no Palácio Alencastro, dí-lo a consciência dos contemporâneos, a atestar o seu tino financeiro, o seu patriótico desprendimento e, acima de tudo, a sua inatacável probidade.

Deve-lhe Mato Grosso, principalmente no departamento de Instrução Pública, os mais assinalados serviços, levados a efeito nesse primeiro período governativo. Após as lutas políticas de 1916-1917, coube-lhe representar o Estado no Senado Federal, donde o foram buscar seus conterrâneos para entregar-lhe novamente o governo, em sucessão ao arcebispo Aquino Correa, cuja presidência  se finalizara pela  fusão dos partidos, realizando dessa forma, o programa patriótico de paz e união que formara o escopo do governo do eminente prelado cuiabano. Essa união só de pode fazer, no momento, em torno do nome consagrado e respeitável de Pedro Celestino, que congregou em redor de si, como uma bandeira de honestidade e de patriotismo, os elementos mais ponderáveis da política mato-grossense.

A segunda administração Pedro Celestino é de ontem e dela basta dizer que, além da obra de cimentação da paz e da concórdia, conseguiu ainda o egrégio patrício a reconstrução financeira do Estado, abalado em consequência das lutas partidárias e da depressão enorme da receita, em 1921, legando-nos vários e importantes melhoramentos, alguns acabados, como a estrada da Chapada, velha aspiração cuiabana, que lhe coube realizar, e outros iniciados, como o serviço de iluminação da capital pela força motriz do Rio da Casca.

Teve a auxiliá-lo nessa segunda fase a competência, a energia e a aptidão invulgar do dr.V. Correa Filho, seu secretário Geral do Estado, figura de eleição no meio intelectual e administrativo de Mato Grosso, cujo nome constitui uma garantia de confiança, sendo, como é, um dos poucos em que Mato Grosso pode e deve espera para sua evolução e o seu progresso.

Enfermado, já ao final do quadriênio, passou o governo ao 1° vice-presidente, dr. Estevão Correa, que prosseguiu e ultimou o período administrativo, em perfeita unidade de vistas e de ação com o grande mato-grossense, o que vale dizer, trabalhando patrioticamente pela nossa terra.

O maior serviço prestado a Mato Grosso por Pedro Celestino foi, porém, não há duvidar, esse exemplo vivo de honradez e trabalho, de abnegação e amor pátrio, de carinho pelas nossas coisas e discernimento no estudo dos nossos problemas, de pureza e inquebrantabilidade  na defesa do patrimônio moral e material do Estado, constituindo-se barreira inexpugnável aos delapidadores da nossa honra e das nossas riquezas.

O “caso Antonina” é típico e não há mister evocar outros.

Criou, por isso, como é natural, inimigos rancorosos e adversários implacáveis. Essas odiosidades são, entretanto, daquelas que honram e enobrecem o homem.

Terminado o seu governo, foi, em 1927, reconduzido, pelo voto dos seus paisanos, à Câmara Alta, onde se conservou até que a Revolução de Outubro de 1930 dissolvesse o Poder Legislativo. Partidário da Aliança Liberal desde a sua constituição, dirigiu nessa ocasião, memorável manifesto aos seus amigos. Vitoriando o movimento revolucionário, nada, entretanto, ambicionou, no seu desprendimento assaz conhecido, no seu nobre e sadio idealismo, que só visava o bem coletivo. Tendo feito uma carreira política e administrativa de meio século, jamais se lhe apontou um ato menos digno ou inspirado em motivos que não fossem os que visam o engrandecimento de sua terra. Sofreu, com superioridade, com estoicismo, as mais ingratas campanhas. Tudo levou de vencida. E hoje, ao descerem-lhe ao seio maternal da terra os despojos venerandos, um sentimento de tristeza e de pesar invade todos os corações dos mato-grossenses patriotas e sensatos, ante o vácuo que, no cenário da administração e da política, deixa o desaparecimento do grande filho da terra cuiabana.

O coronel Pedro Celestino foi casado com D. Constança Novis Correa da Costa e, enviuvando-se, consorciou-se com a sua cunhada D. Corina Novis Correa da Costa. Do primeiro casal deixou os seguintes filhos: dr. Clóvis Correa da Costa, médico, residente no Rio de Janeiro, drs. Alvino Correa da Costa, farmacêutico e Ytrio Correa da Costa, engenheiro, residentes em Campo Grande; d. Aline, casada com o tenente-coronel Romão Veriano da Silva Pereira, d. Edith, casada com o dr. Virgílio Alves Correa Filho e d. Maria Constança, casada com o cel. José Alves Ribeiro Filho.
Das segundas núpcias deixou os seguintes filhos: dr. Fernando Correa da Costa, médico, residente em Campo Grande, tenente Pedro Celestino Correa da Costa, Paulo Correa da Costa, contador, João Batista, estudante e senhorinha Inês Maria Luiza Correa da Costa.

Seu principal herdeiro político foi o filho Fernando Correa da Costa, médico que, mudando-se para o Sul do Estado em 1927, fez carreira como prefeito de Campo Grande (1947), governador do Estado (1950 e 1960) e senador da República (1966). Seu outro filho, Ytrio Correa da Costa, foi prefeito nomeado de Campo Grande e deputado federal. A mais recente representante da família na política foi a deputada federal Tereza Cristina Correa da Costa, (DEM-MS) com mandato entre 2014 e 2018.


FONTE: A Cruz (Cuiabá), 31 de janeiro de1932.

FOTO: acervo do governo do Estado de Mato Grosso.


sábado, 20 de janeiro de 2018

Inauguração da primeira ponte de concreto sobre o rio Cuiabá







O governo do interventor Júlio Müller entrega à população da capital mato-grossense em 20 de janeiro de 1942, a primeira ponte de concreto sobre o rio Cuiabá, ligando esta cidade ao futuro município de Várzea Grande. A ponte, estrutura leve de cimento armado tem o comprimento total de 224 metros, sendo um vão central de 40 metros para passagem da navegação, largura de 6,80 metros, dando uma chapa de rolamento para dois veículos e passeio para pedestres. Carga admissível para o trem tipo de 20 toneladas nos dois sentidos.

Era prefeito de Cuiabá Manoel Miraglia, que decretou feriado municipal nesse dia da inauguração da ponte. A comissão promotora dos festejos de inauguração, à frente Waldo Olivarria, era composta por Eugênio Curvo, Aristides Pompeu Campos, Licínio Monteiro da Silva, Manoel Horácio e João Maia. A ponte foi construída pela firma Coimbra Bueno e o responsável pela obra,iniciada em 1940, foi o engenheiro Cássio Veiga de Sá.

O ponto culminante da solenidade de inauguração foi o discurso proferido pelo interventor Júlio Müller, onde o governante ressalta a importância de obra e enaltece a figura do ditador Getúlio Vargas e seu Estado Nacional:

Senhores

Não me surpreendeu o movimento espontâneo dos meus conterrâneos e amigos, no sentido de se denominar Júlio Muller a ponte que mandamos construir sobre o lendário rio Cuiabá. Conheço a gente mato-grossense e tenho a veleidade de conhecer os seus sentimentos, as suas aspirações, o seu coração generoso eautruísta.

Aliás, não é necessário que eu vô-lo afirme: governando o Estado por honrosa delegação do grande e benemérito Chefe Nacional, presidente Getúlio Vargas, procuro estar em contato direto com os meus governados, resolvendo sempre em perfeita comunhão de vistas os problemas cujas soluções vêm sendo reclamadas por todos.

Daí a construção do Grupo Escolar “Afonso Penas”, de Três Lagoas; daí a construção do quartel, penitenciária e a criação do Liceu Ginasial de Campo Grande; os estudos do serviço de luz de Cáceres; o encaminhamento do Ministério da Viação e Obras contra a seca, do memorial da população poconeana; os auxílios em dinheiro a quase todos os municípios do Estado; a reconstrução de estradas; a construção de novas e importantes rodovias; o sem número de pontes construídas e em construção em todos os quadrantes do Estado, destacando-se esta que reclamáveis há tantos anos e cuja construção se fazia tão necessária ao desenvolvimento de Cuiabá e de toda região Oeste de Mato Grosso.

Aqui, entre nós, se encontra o advogado Estevão de Mendonça que, juntamente com o saudoso Ferreira Mendes, na sua juventude, através das colunas dos jornais da época, sugeriu ao governo de então a necessidade de se construir a ponte sobre o Cuiabá. Pois bem, meus amigos, a atitude daqueles jovens mato-grossenses fora explorada pelos políticos alegando-se que eles queriam tirar o ganha-pão do concessionário da barca-pêndulo que era um correligionário político.

Como evoluímos nestes últimos anos!...

Relembrando esse fato eu quero tão somente render nossas homenagens àqueles ilustres mato-grossenses e demonstrar-vos, mais uma vez de modo insofismável, as vantagens do regime atual.

Ontem, sob o império da política, com o predomínio dos partidos, o interesse coletivo, o interesse de um povo inteiro era postergado para não se descontentar um amigo político, um único correligionário. Hoje, sob a égide do Estado Nacional sobrepõe-se o interesse público aos interesses particulares e, esta afirmação é tão oportuna, tão verídica que aqui nos encontramos para a inauguração desta ponte, um sonho que se tornou realidade!

Se quereis mais uma prova do acatamento à vontade popular, do predomínio da vontade do povo no novo regime: aí está esculpido em bronze, a denominação que destes à ponte contra a vontade do próprio governo, que a mandou construir, e, entretanto diante do imperativo dos vossos desejos só restou a esse Governo uma alternativa: acatar a vossa deliberação.

Meus amigos,

Por ocasião do início da construção desta ponte eu tive oportunidade de vos falar que a obra era vossa. Repito essa afirmação, neste momento, para pedir a cada habitante deste rincão maravilhoso da pátria, que cuide, que zele desta ponte, para conservá-la sempre nova, sempre útil a todos. E nesta hora de contentamentos e emoções profundas, volvamos o nosso pensamento ao Chefe, pedindo a Deus que lhe dê vida longa para maior grandeza do Brasil.

FONTE: O Estado de Mato Grosso (Cuiabá) 21 de janeiro de 1942.
FOTO: acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

Força brasileira deixa Uberaba

4 de setembro de 1865 Para dar combate ao Paraguai, cujas forças em dezembro de 1864 invadiram o Sul de Mato Grosso, paulistas e min...