quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Guerra do Paraguai: tropas chegam a Nioaque



Nioaque antiga. Uma cidade com as marcas da guerra

De Miranda onde estavam acampadas desde o início do ano anterior, as tropas brasileiras de reocupação da fronteira chegam a Nioaque em ruínas, em 24 de janeiro de 1867, sob o comando do coronel Camisão. A chegada e os primeiros dias na vila são detalhados pelo tenente Taunay, do corpo de engenharia:

Ali chegamos às 11 horas de 24 de janeiro de 1867, acampando, em ordem de batalha, com a direita encostada à margem direita de Nioac; e a esquerda à mata de Orumbeva. Instalaram-se o quartel general e o trem à retaguarda, no local da vila, ocupando o hospital as pequenas casas salvas do fogo e um grande galpão que às pressas se construiu.
Serviu a nave da igreja – de onde se retirara tudo quanto ainda havia de símbolos do culto – de depósito ao cartuchame e a todas as munições.


Ergueram-se, de todos os lados, ranchos de palha, gurbis como lhes chamam na Argélia, e, dentro em pouco, oficiais e soldados ali se acharam tão bem instalados quanto as circunstâncias o permitiam. Um bem-estar, desde vários meses ausente, o renovamento da existência, um sentimento de plenitude de vida a todos nós exaltava, e em todos se transmutava na ânsia de sobressair, graças a algum brilhante feito d’armas que chamasse a atenção do país para uma expedição desde muito inativa. Reinavam no acampamento a esperança e a alegria.


FONTE: Taunay, A Retirada da Laguna, (16a. edição brasileira) Edições Melhoramentos, São Paulo, 1963,  página 37. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Dom Aquino assume o governo




Consequência de amplo acordo entre situação e oposição, depois da Caetanada, que resultou na renúncia do presidente Caetano Manoel de Faria e Albuquerque e na intervenção federal que durou um ano, assume o governo, em 22 de janeiro de 1918, o bispo de Cuiabá, Dom Francisco de Aquino Correa, no que foi chamado de governo da conciliação.¹

O Matto-Grosso, principal órgão da imprensa no Estado, publicou reportagem completa sobre o dia da posse do novo presidente:




Desde o alvorecer da manhã de 22,apenas se teve aviso da passagem da lancha Iguatemi em S. Antonio do Rio Abaixo, toda a Cuiabá se pôs em preparativos para receber carinhosamente D. Aquino, sabedores como eram todos de que S. Exa. Para aqui se encaminhava a bordo daquela embarcação.


As comissões incumbidas de irem ao encontro do querido eleito do povo mato-grossense puseram-se em ação, e às 9 ½ descia o Cuiabá a lancha 13 de Junho da Secretaria da Agricultura, levando a seu bordo a comissão central encarregada da recepção a D. Aquino, composta dos srs. Capitão tenente Paes de Oliveira, coronéis João Celestino, Gurgel do Amaral, Manoel Moreira, drs. Campos Junior e Geonísio de Mendonça, representantes do interventor federal; D. Antonio Malan por si, e padres Batista Couturon e Colbachini representando a Congregação Salesiana do Estado.


A bordo da “Rosa Bororo” desceu o coronel Alexandre Addor, intendente geral do município, acompanhado de diversos cidadãos da elite cuiabana, dentre eles o capitão Romão da Silva Pereira, representante da guarnição federal desta cidade.


Assim organizada a embaixada que ia ao encontro de D. Aquino, seguiu improvisada flotilha até um pouco abaixo do Poço Grande onde foi encontrada a Iguatemi que sulcava, garbosamente embandeirada as águas barrentas do Cuiabá.


Passando daí em diante a acompanha-la os transportes que tinham ido ao seu encontro, seguiram-na até a usina do sr. Joaquim Martins, onde as diversas comissões daqui enviadas transbordaram para o Iguatemi, apresentando então a D. Aquino as boas-vindas  e votos de felicidade pelo seu governo.,


Prosseguindo os itinerantes em demanda da cidade, aqui desembarcaram por volta de meio dia, sendo D. Aquino alvo das mais estrepitosas palmas ao pisar na terra cuiabana.



Ao desembarcar em companhia do dr. Camilo Soares, que o fora trazer a bordo da Iguatemi, foi saudado pelo cel. Alexandre Magno Addor que em nome do governo municipal apresentou boas vindas à S. Exa.



Do seio do povo dirigiu a palavra ao recém vindo, o sr. Tomé Ribeiro.



O CORTEJO



Depois de recebidos por D. Aquino os cumprimentos de diversos representantes dos partidos políticos do Estado, de congregações religiosas e da imprensa, organizou-se imponente cortejo que respeitosoe vivamente possuído de entusiasmo, acompanhou S.Exa. em demanda da residência oficial.



Ao passar o virtuoso prelado em frente a a igreja de S. Gonçalo, de uma tribuna ali improvisada, saudou-o um inteligente aluno do Liceu Salesiano, sendo logo substituído pelo delegado da sociedade de S. Luiz Gonzaga que apresentou em nome de seus consócios votos auspiciosos de boas vindas a Dom Aquino.



Em sinal de estima para com este futuroso rebento da estirpe cuiabana, discursou também enaltecendo-lhes as virtudes morais e cívicas e augurando dias venturosos no seu governo a gentil senhorita Alda de Oliveira.


Falou por último, abundando nos mesmos conceitos dos oradores que o precederam o sr. João Nunes.


Continuando seu caminho o préstito cívico teve que parar novamente à praça da República para ouvir o ilustre dr. José Mesquita, que ali pronunciou um substancioso discurso, saudando o presidente eleito em nome do povo mato-grossense.


Abafadas pelas mais estrepitosas palmas as últimas palavras do orador, o préstito que cada vez mais se avolumara atravessou por entre duas alas formadas pelas alunas de todas as escolas e colégios públicos e particulares de Cuiabá, tendo D. Aquino feito o trajeto da República até ao palacete de sua nova residência, debaixo de uma verdadeira chuva de flores que lhe arremessava a petizada vivaz de nossas escolas.



NA RESIDÊNCIA PRESIDENCIAL



Chegando D. Aquino Correa no palacete da rua Pedro Celestino onde está residindo, aí saudou-o pela Assembleia Legislativa o sr. desembargador Trigo de Loureiro que em nome da corporação política a que pertence, hipotecou ao governo que se ia iniciar, todo o apoio e colaboração do poder legislativo estadual.



DOM AQUINO FALA AO POVO DE CUIABÁ

Depois de ouvida atentamente a palavra do representante da Assembleia Legislativa, ficou a multidão que concorrera às festas da recepção a D. Aquino, sôfrega por ouvir-lhe a palavra sempre fluente e a frase sempre burilada.



S. Exa. Começou o seu discurso por agradecer nominalmente a todos os que o haviam saudado ao chegar a esta cidade, em nome individual ou por mandato e terminou por agradecer em palavras repassadas de gratidão e sinceridade o carinho com que vinha sendo distinguido.



Na sua bondade em tudo revelada, não esqueceu nem mesmo o concurso prestado pelos selvícolas à sua brilhante recepção.



Perorando acentuou o desprendimento dos partidos políticos do Estado aceitando a sua candidatura à Presidência, para se firmar um regime de paz e de concórdia, e enalteceu a colaboração dos drs. Wenceslau Brás e Camilo Soares, pela vitória desta primeira etapa na política de Mato Grosso.



As últimas palavras de S.Exa. foram acompanhadas dos mais expressivos aplausos, findos os quais dispersou-se a massa popular



O COMPROMISSO DO PRESIDENTE ELEITO E DOS SEUS SUBSTITUTOS LEGAIS



Às 17 horas penetrou no edifício onde funciona a Assembleia Legislativa, que estava reunida em sessão. S.Exa. D. Aquino Correa, que foi ali recebido pelos deputados: drs. Eurindo Neves, Rangel Torres e cel. Pilades Rebuá, que o levaram a tomar assento à esquerda do presidente da Assembleia, o vice em exercício, cel. Faria Albernaz.



Para o fim de prestar o compromisso do cargo de 1° vice-presidente do Estado, compareceu ao passo da Assembleia o dr. Antonio Ferrari, bem como o capitão Paes de Oliveira, para fazê-lo ao de 3°.



Prestado por S.Exa. D. Aquino o compromisso e pelos seus substitutos constitucionais já referidos, ouviu-se demorada salva de palmas, logo que o presidente da Assembleia proclamou empossados os cidadãos compromissados.



Ao se retirar D. Aquino do edifício da Assembleia, fora como acontecera ao penetrar ali, recebido com as continências de estilo, prestadas por uma companhia do 1° Batalhão da Força Pública, comandada pelo cap.Benedito Augusto de Carvalho e pelo esquadrão de cavalaria.



Tanto na ida como em seu regresso teve uma concorrência numerosíssima no seu acompanhamento.



NO PALÁCIO DO GOVERNO



De volta da Assembleia D. Aquino se dirigiu ao palácio do Governo onde foi recebido pelo dr.Camilo Soares e seus auxiliares.



Este, na qualidade de interventor federal, leu perante S. Exa. uma exposição de sua gestão no período em que aqui desempenhou funções governamentais e terminou por apresentar a D. Aquino Correa, votos de felicidade pelo seu governo.



Respondendo S. Exa. às palavras do dr. Camilo Soares, disse que o seu programa de governo podia se reduzir a esta trilogia: paz, economia e trabalho..



Referindo-se à primeira das facetas do plano traçado, disse, precisamos ter uma paz generalizada e completa, isto é, mantê-la entre o Estado e os poderes centrais da República+, cultivá-la entre si os poderes constituídos do Estado, e procurarem-na de modo eficiente os partidos políticos, conservando-se mesmo cada um em seu posto e independente de fusão.



S. Exa. encareceu depois as conveniências de rigorosa economia em seu governo para o que disse muito contar com o poder legislativo, e, por último apelou para todas as forças vitais do Estado, para, sob os auspícios da concórdia, da economia e do trabalho promovermos o progresso e o engrandecimento de Mato Grosso.



Retirando-se S. Exa.do palácio do Governo, sendo-lhe prestadas as continências da pragmática, dirigiu-se à sua residência acompanhado de crescido número de autoridades e amigos.


FONTE: ¹Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso (volume I), Assembleia Legislativa, Cuiabá, 1967, Página 111. ²O Matto-Grosso, (Cuiabá) 24 de janeiro de 1918.
 
 

domingo, 21 de janeiro de 2018

A morte de Ricardo Franco





Aos 61 anos, falece no Forte Coimbra, em Forte Coimbra, Ricardo Franco de Almeida Serra. Nascido na cidade do Porto, em Portugal, veio para Mato Grosso como auxiliar do presidente da província Luiz de Albuquerque de Mello Pereira. Sua trajetória no Estado é resumida por Rubens de Mendonça:

Fez importantes explorações geográficas. Reconstruiu o Forte de Coimbra em 1797 e o defendeu gloriosamente em 1801. Foi o maior auxiliar do Capitão General Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Foi governador interino da Capitania. Comandou a fronteira do Baixo Paraguai, demarcou a fronteira da Barra do Jauru ao Madeira, de acordo com o tratado de 1777, explorou vários afluentes do Amazonas, fez o levantamento hidrográfico do Madeira e Guaporé. Explorou os campos dos Parecis, as cabeceiras de Jauru, do Barbado, do Juruena e toda a região fronteira entre a boca daquele rio e Vila Bela, seguindo depois pelo Paraguai abaixo até a Baía Negra e rio acima até o Cuiabá.


O nome de Ricardo Franco, junto com Vespasiano Barbosa Martins, Coronel Camisão e o tenente Antonio João, está na letra do Hino de Mato Grosso do Sul.
 

FONTE: Rubens de Mendonça, Dicionário Biográfico Mato-grossense, edição do autor, Cuiabá, 1971, página 145.

Força brasileira deixa Uberaba

4 de setembro de 1865 Para dar combate ao Paraguai, cujas forças em dezembro de 1864 invadiram o Sul de Mato Grosso, paulistas e min...